Ao longo dos últimos anos, Renato Gaúcho e Flamengo se desejaram mutuamente em momentos distintos. O vínculo se concretizou em julho deste ano, mas mal durou quatro meses, uma eliminação na Copa do Brasil, o sonho do tri da Libertadores frustrado e a perda iminente do Brasileiro. Mas por que a relação, que terminou nesta segunda-feira, não deu certo?

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Talvez seja necessário voltar uns anos atrás para encontrar uma das explicações. Ainda em 2018, antes das últimas eleições presidenciais, Renato surgiu como uma das preferências do então candidato Rodolfo Landim. Empossado presidente, ele escolheu Abel Braga e Renato renovou com o Grêmio.

Naquele momento, o Flamengo estava montando seu time de R$ 200 milhões, mas ainda não era o bicho-papão a ser batido no futebol nacional. Os gaúchos eram o último brasileiro campeão da Libertadores, em 2017. Naquele momento, de início temporada e sob outra perspectiva de cobranças, a vida de Renato poderia ter sido mais fácil.

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Mas tudo mudou com Jorge Jesus, o futebol vistoso e competitivo apresentado em 2019 e parte de 2020 e o título da Libertadores num virada histórica. O sarrafo que o português deixou estava alto demais para quem quer que o substituísse. Doménec Torrent não conseguiu. Rogério Ceni também não, ainda que tenha conquistado o Brasileiro. Renato Gaúcho tampouco.

Num nível de cobrança acima de todos os lados (diretoria, torcida e imprensa), o repertório do técnico se mostrou pobre. Mesmo tendo saído com mais de 70% de aproveitamento (média pouco abaixo do Atlético-MG, no Brasileiro, por exemplo), Renato não criou um padrão de jogo consistente quaisquer fossem os jogadores em campo.

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Claro que num time de R$ 200 milhões, os craques podem muito bem resolver sozinho. E fizeram em algumas ocasiões. Mas quando a individualidade não dava conta, não havia jogo para se sobrepor ao adversário. Vide a final com o Palmeiras, quando teve dificuldades de se desvencilhar do esquema tático montado por Abel Ferreira. O erro de Andreas Pereira foi uma fatalidade, mas não resume, sozinho, a derrota em Montevidéu.

Não dá para ignorar os inúmeros percalços vividos pelo Flamengo nesses quatro meses. Excesso de jogos seguidos, perda dos jogadores mais importantes para seleção brasileira ou por lesões, déficit físico dos atletas que influenciou no rendimento. Tudo isso entra na conta. Mas não pode ser usado de muleta o tempo todo. Afinal, o papel do treinador é achar soluções para os problemas. Renato não as encontrou, não apresentou estratégias diferentes e viu sua popularidade com a torcida despencar com decisões como Gustavo Henrique de atacante e as inúmeras substituições nos minutos finais que descaracterizavam o time.

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Ao final dos quatro meses de trabalho, pouco foi visto do dedo do técnico no time. O reconhecido poder motivacional do treinador não foi suficiente no momento em que o Flamengo perdeu jogadores como Arrascaeta, Bruno Henrique e Pedro, por exemplo. Apesar dos bons momentos de Michael, a estrutura ofensiva rubro-negra esteve mais baseada na individualidade do que num padrão tático.

Além disso, a postura resignada após a eliminação na semifinal da Copa do Brasil não caiu bem. Frases como “Quem muito quer nada tem” e o “O Flamengo não vai ganhar sempre” foram compreendidas como desculpas para o rendimento abaixo do esperado do time.

Talvez o maior erro de Renato Gaúcho foi ter aceitado comandar o Flamengo com a ideia do clube dos anos das vacas magras. Ali, 1 a 0 no sufoco era goleada. Um título por ano, suficiente. Agora, não mais.