Finais são decididas em detalhes. Esse clichê é um clássico do futebol que Atlético-MG e Flamengo levaram ao extremo nesta Supercopa do Brasil. Não faltaram detalhes importantes, especialmente nas cobranças de pênalti, que só terminaram quando o chute de Vitinho parou nas mãos de Everson. Mas até chegar ao momento decisivo do título, rubro-negros e alvinegros protagonizaram o melhor jogo do futebol brasileiro na temporada 2022 e uma disputa de pênaltis emocionante e inacreditável. Após empate em 2 a 2 no tempo regulamentar, na Arena Pantanal, a taça ficou com o Galo com vitória de 8 a 7 nas penalidades após nada menos que 24 cobranças.

A Supercopa coroa a geração de Hulk, Everson, Guilherme Arana e companhia, que tornou o Atlético-MG o quarto clube a vencer o torneio — o Flamengo tem duas conquistas (2020 e 2021), enquanto Grêmio (1990) e Corinthians (1991) venceram uma vez. A espinha dorsal do clube mineiro só não ganhou a Libertadores entre as competições possíveis. O Galo também faturou R$ 5 milhões em premiação.

Dos cantos de “eu acredito” até Everson vivendo dia de São Victor, toda vez que um torcedor atleticano for falar deste título terá que recordar que o Flamengo teve quatro chances para ser campeão. Willian Arão, Matheuzinho, Fabrício Bruno e Hugo tiveram a penalidade do título em seus pés. Dois pararam no goleiro do Galo (Arão e Matheuzinho) e os outros dois (Fabrício Bruno e Hugo) foram isolados. Quando Vitinho errou a derradeira cobrança, tentava manter o rubro-negro vivo. O chute também parou nas mãos de Everson.

— Foi mais um sofrimento para a torcida do Galo, e a gente mais uma vez coloca o nosso nome na História do clube. Estou aqui há um ano e meio e aprendi a viver o Atlético, que é isso aí. É sofrimento — disse Everson.

Além dos pênaltis, entender essa final passa pelas escolhas e interpretações que os técnicos Paulo Sousa e Antonio “Turco” Mohamed tiveram fizeram para suas equipes. Ofensivos e sem abrir mão de jogar, foram os responsáveis pela excelente final presenciada na Arena Pantanal.

No caso do Galo, as mudanças não têm sido tão abruptas neste início de temporada. A tentativa é de manter a base campeã deixada por Cuca. Apesar de a ausência de Zaracho ter sido um problema.

No lado rubro-negro, mesmo tendo perdido um clássico e sido chamado de “burro” pelo torcedor, Paulo Sousa seguiu fiel àquilo que acredita ser uma forma de jogar futebol. Não é o Flamengo de Jorge Jesus — e a intenção nunca foi essa. Mas é uma equipe em clara curva de evolução, que conseguiu sufocar o atual campeão brasileiro e da Copa do Brasil por longos minutos.

Gabigol perde chances

O Flamengo não lamentaria os pênaltis desperdiçados se tivesse convertido as inúmeras oportunidades que teve no tempo regulamentar. Gabigol, apesar de ter deixado a sua marca, perdeu duas chances que não se pode desperdiçar em uma final. Fabrício Bruno cabeceou tão próximo ao travessão que foi possível ver as câmeras da TV flagrando os reservas dizerem que “viram a bola lá dentro”. Quando Hugo falhou espalmando bola para o meio da área e Nacho Fernández abriu o placar para o Atlético-MG, o rubro-negro vivia seu melhor momento na partida.

No segundo tempo, Gabigol empatou após bela defesa de Everson em cabeçada de Bruno Henrique. Pouco depois, Diego Godín, o histórico zagueiro do Atlético de Madrid e da seleção uruguaia, se enrolou e deixou Bruno Henrique livre para virar após passe preciso de Lázaro. Neste momento, só o Flamengo jogava em Cuiabá.

O Atlético, porém, reagiu e passou pressionar. Quase na pequena área, Hulk soltou uma bomba sem chance alguma para Hugo.

Um empate justo para duas equipes que, no toma lá dá cá de ataques desenfreados, não mudaram a sua forma de jogar. Então, veio a loucura dos pênaltis. E a festa final foi do Atlético-MG.

— Vai ser uma noite sem dormir. Vamos seguir, somos acostumados a decisões. Mas quando acontece o que aconteceu hoje, a dor é muito grande. Mas temos que seguir. Temos um grande time— lamentou Diego.