A bola finalizada por Gabigol balança a rede e transforma o Maracanã em uma orquestra de um homem só. O camisa 9 – que vestiu a 24 neste sábado – é a maior imagem do Flamengo atual. E, exatamente por ser o maior ídolo recente do clube, torna fácil colocar uma capa de herói em conquistas como a Taça Guanabara. Mas o título conquistado também foi escrito por outros pés, com nomes por vezes subestimados – talvez o maior deles seja Everton Ribeiro.

Para entender a importância desses atletas, é preciso analisar a partida. O Boavista é, sim, a melhor equipe entre os pequenos neste Estadual. Não apenas por concentrar jogadores com passagens pelos grandes, mas por ter uma ideia de jogo minimamente compreensível. Paulo Bonamigo tem méritos ao encarar – e até assustar – o Flamengo mesmo com a diferença técnica entre as equipes sendo gritante.

Diante de um adversário recheado de reservas, os desentrosamento da linha defensiva foi explorado pela dupla Tartá e Caio Dantas. Os melhores momentos foram contra um lento e descoberto Léo Pereira, que só cresceu de produção quando Renê foi recuado para ajudar na cobertura e impedir o “dois contra um”. Estratégia simples, mas que criou um ambiente de tensão quando o Boavista abriu o placar. Algo que parecia impossível.

O gol marcado por Diego Ribas até aliviou a situação, mas escancarou dois fatores: a dificuldade de o esquema tático rubro-negro funcionar com as novas peças e como o talento individual deste elenco permite ser superior mesmo longe dos melhores dias. Quando Jorge Jesus colocou Willian Arão e Everton Ribeiro em campo, a virada parecia questão de tempo. E o camisa 7, em especial, foi tão decisivo quanto Gabigol nos momentos finais da partida.

Gabigol merece ser exaltado pelo gol da vitória, mas é importante olhar para o que torna diferente uma equipe bem treinada e um catado de bons jogadores. O camisa 9 não foi feliz apenas na finalização, mas na construção da jogada iniciada quase no meio-campo. Foi dele o passe que quebrou a primeira linha de marcação do Boavista e achou Everton Ribeiro. Em poucos segundos, o Flamengo uniu inteligência, entrosamento e velocidade.

Quando Everton Ribeiro demorou a soltar a bola neste mesmo lance, a torcida chegou a esboçar uma reação impaciente. Michael passava correndo entre os zagueiros, mas o camisa 7 percebeu a corrida de Gabigol pelas suas costas. Com Pedro de pivô, a jogada foi concluída em uma bela triangulação.

Everton Ribeiro viu que Michael estava marcado e o passe não acrescentaria em nada ao lance. Muitos finalizariam de fora da área, mas o camisa 7 soube esperar o momento certo para soltar a bola com um passe inesperado. Detalhe: não contará como assistência, que será dada a Pedro. Ao mesmo tempo que se torna essencial, é subestimado pelas estatísticas que não o condecoram como merece. Vitória, título e agora foco na Recopa Sul-Americana.

Tais experiência como contra o Boavista servem para analisar mais os reservas do que os titulares. Gabigol e Everton Ribeiro estarão em campo contra o Independiente del Valle, na próxima quarta-feira, mas a dúvida é para saber quem serão os companheiros – Bruno Henrique está lesionado e Arrascaeta tem desgaste muscular. É um problema, mas este Flamengo já mostrou que mesmo longe de estar 100% consegue ser campeão.