O futebol brasileiro vive um momento de incerteza, devido ao surto do novo coronavírus. A paralisação dos campeonatos podem prejudicar bastante os clubes financeiramente. Alexandre Rangel, sócio líder de Entretenimento Esportivo da Ernst & Young no Brasil, concedeu entrevista à ESPN e projetou perda com receitas no esporte.
— Realmente é um cenário bastante desafiador. A gente está vivendo uma situação bastante dramática no futebol. Não é só o Brasil, mas no futebol mundial. O entretenimento como um todo ele vai ser uma das áreas mais afetadas por tudo isso. Talvez uma das áreas que vai ter mais dificuldade de retomar a sua vida normal. Não limitado só ao futebol ou qualquer outra atividade esportiva, mas também se a gente falar de parte de cinema, da parte de tudo que envolve lazer não digital. A parte de entretenimento que é basicamente a parte digital a gente tem visto que tem tido até um certo crescimento, filmes em casa, do streaming. Mas realmente quando a gente fala de eventos esportivos de massa com presença de clube, isso realmente vai demorar bastante -, disse, antes de prosseguir:
— A gente fez esse estudo lá atrás para CBF, o impacto do futebol no PIB, a gente fez algumas análises até iniciais olhando quando seria o impacto no PIB Brasileiro, mas a situação de lá se agravou bastante. A gente vê realmente em linhas gerais que vamos perder de 30%, talvez mais, em termos de receitas dos nossos clubes, falando aí de Série A. Esse ano, no mínimo, quando a gente está falando de impacto de coronavírus no pior cenário. Talvez possa até ser pior, vai depender muito dos desdobramentos que vamos ter daqui para frente, da autorização das autoridades públicas seja para volta a treino e por conseguinte a volta a jogos, seja com portões fechados, o mais provável. A gente está falando de um impacto bastante significativo quando fala de perder um terço das receitas ao longo do ano. Parte delas recuperável para 2021, mas parte não é. A gente está falando de um impacto grande seja no Brasil ou seja lá fora que já trabalha, a sua grande maioria, ou no limite de receita-despesa ou até com endividamento alto. Então é bastante preocupante -, projetou.
Alexandre Rangel acredita que o valor da queda da receita pode chegar até R$ 2 bilhões. O analista ainda apontou fatores que podem prejudicar os clubes financeiramente.
— Eu vi esse cálculo, acho que foi feito pelo Rodrigo Capelo e pelo César Grafietti. Alguma coisa na casa de R$ 500 milhões a R$ 2 bilhões. Por que essa variação tão grande? Porque depende muito do cenário de volta, se vai ser em agosto, final de julho, setembro, com ou sem Brasileiro. Mas se a gente pensar que futebol brasileiro hoje tem uma receita, vamos pensar em Série A, mais fácil. Na Série A 20% da receita dos clubes, dados públicos, mais ou menos é o matchday, com bilheteria, sócio-torcedor, receita de estádio para aqueles que têm, camarote. Isso aí praticamente perdido. Menos sócio-torcedor que não vai ser todo perdido, mas vai ser afetado -, falou, antes de concluir:
— Certamente você vai ter algo que vá afetar num primeiro momento patrocinadores, como a gente já está vendo. E do outro lado mesmo que a gente mantenha num cenário os campeonatos com as mesmas rodadas, ou seja, as tvs vão pagar os mesmo valores que foram combinados, algo possível. Mesmo assim os campeonatos não vão caber, dependendo da volta, dentro de 2020. Então alguns desses pagamentos vão ser não mais em 2020, vão ser em 2021. Como falei, esses 30% ali dentro têm receitas que são recuperáveis em outros anos e têm receitas como bilheteria e sócio-torcedor que não são mais recuperáveis. Mas estamos falando ali de um impacto em torno de R$ 1 bilhão, distribuído para todos os clubes. R$ 1 bilhão com aquilo que vai se impactar no meio da economia é uma gota no oceano. Mas para nós que estamos nessa indústria que vive sempre uma situação financeira no limite, salvo pouquíssimas exceções, qualquer dinheiro a gente sabe que deixa de cair e é algo que dificilmente vai ter uma solução simples nas finanças de cada clube -, encerrou.