Arthur Muhlenberg: “Como esvaziar um clássico”

A edição de 2019 tinha tudo pra ser mais um carioquinha normal, charmoso e não muito competitivo. Com Flor e Foguinho chupando dedo e assistindo pela TV as finais em dois jogos no Maracanã, pra fechar a pré-temporada com a tradicional festinha do Flamengo campeão em cima da vasca. Mas o imorrível espírito de porco dos vascaínos não podia perder uma oportunidade dessas pra atrapalhar o bom andamento dos trabalhos, passar vergonha e ser objeto de chacota.

Revoltados com a concessão do ex-Maracanã ao Flamengo (único clube da cidade que não tá com o nome sujo no Serasa), os vascaínos, enquanto surrupiavam ao Foguinho o chororô, fizeram a suprema pirraça de transferir o primeiro jogo da decisão pro Engenhão. Não satisfeitos em alterar a rotina da comunidade boleira carioca ainda trocaram deliberadamente os lados ocupados tradicionalmente pelas torcidas no estádio olímpico municipal e começaram a vender ingressos antes da liberação de praxe da briosa PM carioca. Que já se eximiu da responsabilidade de escoltar as pacíficas TOs em seus deslocamentos pelo Engenho de Dentro. Um vacilo atrás do outro.

Tem alguma chance da porrada comer no entorno do estádio? Claro que tem, e muita. Mas isso não interessa aos vascaínos, que estão atualmente com uma fixação louca nesse negócio de saber onde vão sentar. Uma disputa com o Flor, que não nos diz respeito em absoluto. Essas atitudes enlouquecidas, que diante do currículo dos seus dirigentes nem podemos reputar como impensadas, prejudicam mais aos torcedores vascaínos que aos rubro-negros. A Magnética vai onde tiver que ir e não fica de mimimi perguntando onde é seu lugar. Já chega jogando a fumaça pro alto, entra em cena e toma de assalto.

Nem precisamos mencionar a questão financeira, o bacalhau hiposuficiente tá preferindo queimar um dinheiro que não tem pra explicitar uma posição política. Pra que essa palhaçada? O que tem a ver o asterisco com as calças? Esse problema éoffCampeonato Carioca, tão misturando as estações. Por aí se pode medir, com razoável exatidão, a importância que eles dão ao nosso rural. Se o Flamengo tá cagando pro Carioca, afirmação que julgo discutível, ficou bem claro que a vasca tá cagando muito mais.

A diferença é que o Flamengo realmente tem mais o que fazer do que ficar jogando 18 datas de carioqueta. São muitos compromissos na agenda esportiva rubro-negra, inclusive o de ganhar dinheiro em outras competições pra não deixar faltar arroz, feijão e ovo pros nossos eternos abas. O Flamengo é um pai severo, mas cumpridor de suas obrigações e todo ano tá lá, segurando a marimba, sustentando o campeonato, a federação e os nossos 200 coirmãos de mãe desconhecida que vivem fudidos sem um puto no bolso.

Não devemos nos incomodar com futebol. É o nosso lazer e não tem problema se, de vez em quando, prefiramos olhar pro lado positivo. Encaremos o jogo de amanhã no Engenhão como mais uma ação caritativa do Flamengo na eterna campanha de não deixar o futebol carioca morrer. Pior que nem vai ter muita gente no estádio. Com a confusão anunciada, as imperícias organizacionais vascaínas e a certeza do segundo jogo na semana que vem nem os bacalhaus vão sair de casa. O dinheiro que entrar nas bilheterias será dinheiro rubro-negro. Sabedores de como esse dinheiro é suado, é uma pena ver o clássico esvaziado.

É revisionismo histórico dos mais toscos e inescusável desprezo ao conhecimento acumulado pelos que nos precedem insinuar que Flamengo x Vasco, institucionalmente falando, não tenha importância. Tem importância demais. É um dos maiores clássicos do país. Ganhar deles é tão importante quanto ganhar de qualquer um dos nossos fregueses. É uma disputa maneira e cheia de história entre dois lados da cidade, duas maneiras de ver o mundo. Embora ultimamente esteja cada vez mais difícil fazer comparações. E não é uma questão de pagar ou não pagar as contas d’água. Enquanto o Flamengo comemorou 7 Cariocas, 2 Copas do Brasil, uma Copa dos Campeões, um Brasileiro e a Flórida Cup, somente neste século, as maiores comemorações da Vasca no mesmo período foram os 4 vice campeonatos pro Flamengo (2001, 2004, 2006 e 2014), os 3 retornos à Série A e o bem sucedido resgate do torcedor que queria se jogar da marquise de São Januário.

Mas decisão é decisão e por pior que esteja a nossa baranga de fé, o axioma continua valendo: clássico é clássico e vasco-versa. O Flamengo não vai afobado, vai tranquilo. Sabe do que é capaz e sabe que dentro de campo a capacidade da baranga em atrapalhar o nosso planejamento de passar o rodo no Carioca é muito reduzida. A final da Taça Rio foi um aperitivo, inclusive com a histórica entrada de Arrascaeta em campo pra cabecear o empate que levou a decisão pros pênaltis. Não dá sequer pra considerar que Abel vá deixar o nosso 14 no banco. Já ultrapassamos essa fase, isso é página virada. Agora queremos ver evolução, sabemos que temos elenco pra isso. Desde que joguem sempre os melhores.

Se organizar direitinho, e não inventar moda, dá pra esculachar com o bacalhau hoje no Engenhão e no domingo que vem, no Maracanã, fazer um jogo das faixas bonito, num clima de paz e harmonia com as duas torcidas comemorando suas conquistas. A do Flamengo, o 35º Carioca e a da vasca, o 10º vice pro Mengão.

Arthur Muhlenberg / República Paz e Amor

Fonte: https://colunadoflamengo.com/2019/04/arthur-muhlenberg-como-esvaziar-um-classico/

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