Arthur Muhlenberg: “Tudo o que era sólido se desmancha no ar”

O Maracanã teve um autêntico domingo vermelho e preto. Mais vermelho do que preto, em perfeita consonância com o bicentenário do bom velhinho defensor das massas proletárias, Karl Marx, que se celebrou no sábado. As arquibancadas abarrotadas de trabalhadores, por força de uma política de precificação abertamente socialista, viram encantadas o show de bola de Paquetá, Cuellar, Vinicius Jr e Everton Ribeiro pelas esquerdas. Só faltou a Raça e a Urubuzada cantarem a Internacional e o burguês Dourado fazer gol pra rolar piadinhas com a foice, mas nem foi preciso. O veiúdo 2×0 enfiado no tradicional freguês meridional na base da martelada vingaram o proletariado rubro-negro.

E até os poucos reacionários da Nação foram forçados a admitir que o Flamengo tem jogado bastante direitinho e justificado a inesperada e longeva (2 rodadas) liderança no Brasileiro. Há quem repute a significativa melhora do time ao talento que Pep Barbieri tem demonstrado em fazer tudo aquilo que o que o elenco que o escolheu deseja. Um estilo de comando pragmático que, até que dê alguma merda, não tem como ser contestado. Outros atribuem a boa fase aos métodos inortodoxos de incentivo da Fla-Aeroporto e outros ainda à volta do povão classe média ao Maraca. Como disse o vovô Marx, o caminho pro inferno está pavimentado de boas intenções. Os motivos não importam, sigamos a tradição capitalista de comentarismo e nos concentremos no resultado.

Ao contrário da defesa, onde mal fechamos a conta do chá, do meio pra frente o Flamengo mostrou que está bem servido de talentos. Com Arão neutralizado no banco e Everton Ribeiro despertando de seu longo sono letárgico a nossa meiúca, com Paquetá dando show, tem conseguido se impor nas ultimas partidas e isso não vinha acontecendo sob a batuta de Carpegiani. Menção especial ao colombiano Cuellar, que tem sido um ponto de equilíbrio na contenção. O futebol de desarmes e passes certos do sardento meio-campista anulou as gracinhas da gauchada sem-drenagem e tem lembrado o papel do chileno Maldonado naquele time de 2009.

O nosso ataque ainda foi mais ou menos, com baixa taxa de conclusão em relação a quantidade de jogadas ofensivas criadas. Mas a volta de Guerrero, se não acaba definitivamente com o caô, em tese aumenta as possibilidades de que as centenas de bolas centradas na zona do agrião resultem em gols. Geuvânio ainda não convenceu e Vinicius Jr, quando não está humilhando seus marcadores, não pode ser a bola de segurança do time. É injusto com ele. Precisamos de mais alternativas ofensivas. Mesmo com a dibração desenfreada de Paquetá e Vinicius Jr, que fizeram a eterna paquita D’Alessandro dar vários faniquitos enquanto era chapelada sem piedade, empolgando as massas ainda não estamos autorizados a oba-obizar plenamente porque o Inter mostrou que não estava na Segundona à toa. Mas com essa improvável invencibilidade de 7 jogos já dá pra fazer uma graça. Quem nunca? Bora, Mengão! Rumo ao Hepta!

É bem verdade que só temos enfrentado times oriundos, egressos ou fortemente identificados com as divisões subalternas do pujante futebol pátrio. Mas se formos puxar a capivara dos demais 19 competidores do Brasileiro sobram só uns 2 ou 3 sobre os quais não respingue a desonra pestilenta da Série B. Que culpa tem o Flamengo se os altos padrões de honradez vigentes na Gávea não são seguidos pelos coirmãos? Nêgo se rebaixa mesmo, e na maior parte das vezes com extremo merecimento.

Não dá é pro Flamengo ficar escolhendo adversário, tem que aproveitar o bom momento e doutrinar quem aparecer pela frente. Até porque no futebol as fases boas costumam ser curtas e de uma hora pra outra podemos voltar à pasmaceira habitual. Nessatour-de-forceem que os times são oprimidos e os jogadores explorados pra cumprir o calendário antes da Copa do Mundo, com jogos de 3 em 3 dias, o melhor que o faz Flamengo é acumular gordura e baixar as expectativas. Porque até a meia-noite de 31 de dezembro ainda será oficialmente ano de eleição.

E, convém não esquecer, ainda tem a questão da Libertadores pendente. Enquanto não se confirma a obrigatória passagem para as 8as o torcedor do Flamengo seguirá como Getúlio, que confiava desconfiando. Consciente que uma metade do elenco é capaz de tudo enquanto a outra metade não é capaz de nada. Dizem que os materialista dialéticos não tem religião e que enforcarão o último padre com a corda vendida pelo ultimo capitalista, por via das dúvidas a minha fé pequeno-burguesa continuarei a depositar nos nossos moleques porque é certo que, num livre mercado ou numa economia estatizada, eles sempre se valorizarão. Saudações, camaradas.

Mengão Sempre

Reprodução: Arthur Muhlenberg | República paz e amor

Fonte: http://colunadoflamengo.com/2018/05/arthur-muhlenberg-tudo-o-que-era-solido-se-desmancha-no-ar/

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