No capítulo de terça, o melhor técnico das Américas em 2019 estreia na sua missão de uma volta redentora à Europa e sucumbe diante de um fraco adversário grego na primeira partida. No próximo verso, seu ex-clube, campeão de tudo e invencível até pouco tempo, sofre sua pior derrota na história da competição em que fizeram História juntos ano passado. Na manhã seguinte, a sofrência do torcedor do Flamengo e o triste fado do início de trabalho de Jesus no Benfica seguem separados por um oceano, mas unidos na conjunção do “se”. E se não tivéssemos nos separado?

Temperada com personagens coadjuvantes como Zivkovic, sérvio dispensado por Jesus que fez o gol da vitória do PAOK contra o Benfica, e coincidências marcantes – como o placar da derrota para o Del Valle, 5 a 0, ser o mesmo que o Flamengo aplicou contra o Grêmio no auge do time com o português -, o roteiro da semana do técnico e clube, se fosse de ficção, seria do tipo que a gente diria que é forçado. Daqueles em que a crítica especializada diz que o diretor errou a mão um pouquinho.

No caso, provavelmente seria um roteiro que apresenta um casal que se dá muito bem juntos. No meio da paixão se separam e, logo depois, o mundo parece dar sinais de que eles deveriam ficar juntos, ainda que pareça impossível.

“Alguma música da Marília Mendonça deve falar sobre isso”, me escreveu um torcedor no Twitter. Pouco versado no sertanejo, fui apurar. E um dos maiores sucessos da compositora é quase uma ode ao momento.

“Quem eu quero, não me quer/ Quem me quer, não vou querer/ Ninguém vai sofrer sozinho/ Todo mundo vai sofrer”. O último verso, título da canção, poderia ser manchete do jornal de hoje, com fotos de gols do PAOK e do Independiente Del Valle.

— 50 milhões me amavam. Todos os jogos no Maracanã era 70 mil. Todos os jogos. Não é ódio. É amor. Eu sei que os adeptos do Flamengo querem que o Benfica perca. Por um motivo. Eu sei qual é o motivo — a fala, que seria facilmente musicada pela talentosa Marília, é de Jorge Jesus em uma coletiva na quarta-feira, entre a sua derrota e a do Flamengo.

A sofrência seguirá: sem tempo para lamentar, Jorge Jesus terá uma difícil missão em meio a um conturbado contexto no Benfica e o Flamengo precisará entender no que apostar tentando esquecer o português, algo que parecia encaminhado há uma semana, mas todos que já viveram uma doída separação sabem do vai e volta dos sentimentos.

A realidade do futebol não é tão previsível quanto um roteiro de uma comédia romântica, mas não é absurdo pensar que um dia, não agora, Flamengo e Jesus vão se reencontrar. Resta saber se a história seguirá com a complicada trama de um amor de um sertanejo, em que o reencontro nunca é tão bom com a primeira paixão, ou seguirá o forçado roteiro de uma comédia romântica que termina no felizes para sempre.

“Por que que tá errado se tem tudo pra dar certo? Por que que a gente não tá perto?”, também versos de Marília Mendonça. Flamengo e Jesus pareciam mostrar que ganhar era fácil. Agora provam que seguir ganhando é muito mais complicado. Seguem as tentativas.