O Flamengo manteve nesta quinta-feira uma postura firme na disputa com a Libra pela divisão da verba de audiência do Brasileirão. O presidente Luiz Eduardo Baptista (Bap) reforçou que o clube não abrirá mão de contestar critérios que, segundo a diretoria, extrapolam o estatuto firmado entre os sócios da liga e prejudicariam a receita rubro-negra.
Bap reafirma a retórica e confirma arbitragem
No III Fórum Empreendedor do Rio, Bap explicou por que a direção do Flamengo optou pela via judicial e pela arbitragem prevista no estatuto para resolver a divergência sobre os 30% da verba que deveriam reconhecer o peso econômico de cada clube. A controvérsia, na visão do presidente, decorre da falta de critérios claros para ponderar o valor da audiência entre plataformas como TV aberta, TV fechada e pay-per-view.
“O Flamengo está apenas defendendo aquilo que era princípio basilar da fundação da Libra. Não existe novidade. A visão do Flamengo é muito clara: 70% do dinheiro é dividido com base em critérios comuns, e os outros 30% reconhecem o tamanho de cada clube. O Flamengo não vai aceitar redutores conceituais, sociais ou filosóficos nessa parte”
Bap disse também que o clube tentou negociar por meses antes de recorrer ao Judiciário e que o próximo passo formal será a arbitragem, conforme previsão estatutária.
“Vamos para a arbitragem. Tentamos por 8 meses chegar em um acordo. Próximo passo é a Justiça. A arbitragem vai decidir como vai ser, e nós todos vamos ter que conviver com a decisão. O que também tem previsão estatuária”
Além de rebater críticas de rivais — que acusam o Flamengo de “asfixiar” clubes menores — o presidente argumentou que o clube apenas exerce direitos estabelecidos no estatuto desde a criação da Libra e que a escolha do foro para medidas liminares foi acordada pelas partes.
“Assim como foi no Rio de Janeiro. O Flamengo não escolheu o Foro do Rio de Janeiro porque está no Rio, eu não participei disso, mas foi decidido em comum acordo. Se fosse no Amapá, não mudaria a decisão, entraria com o pedido da liminar no Amapá ou onde quer que seja. Não existe um bairrismo por parte do Flamengo.”
Landim explica assinatura e coloca histórico em perspectiva
Rodolfo Landim, que presidiu o Flamengo entre 2019 e 2024, voltou a tratar da assinatura do estatuto da Libra e ressaltou que, à época, o documento estabeleceu princípios gerais e mecanismos de proteção, como o direito de veto, deixando os detalhes operacionais para negociações posteriores entre clubes e parceiros.
“Quando o estatuto foi assinado, não havia nenhuma negociação de direitos iniciada e ainda era esperada a possível transformação daquele grupo numa verdadeira liga, com a adesão de os demais clubes”
Landim defendeu que não caberia ao estatuto detalhar todas as cláusulas contratuais futuras e lembrou que o direito de veto foi incluído exatamente para resguardar interesses dos clubes fundadores.
“Não é em um estatuto que se esperava que fossem discutidos todos os detalhes de futuros contratos. Ali era importante constar princípios básicos, como por exemplo o direito de veto a futuras decisões que o Flamengo obteve. O resto viria depois”
Riscos financeiros e próximos passos
Na prática, a disputa já teve consequências: o Flamengo obteve liminar que bloqueou repasses previstos, estimados em mais de R$ 70 milhões, e a atual diretoria afirma que, na forma original do acordo, o clube corria risco de perder cerca de R$ 100 milhões. O Volta Redonda também se posicionou contrário a determinados termos, o que ampliou a disputa entre integrantes da liga.
Com o caso encaminhado à Corte Arbitral, a expectativa da diretoria do Flamengo é que a decisão final traga segurança jurídica e parâmetros claros para negociações futuras, evitando conflitos semelhantes em próximos contratos de transmissão.
Enquanto a discussão se desenrola nos tribunais e na arbitragem, o Flamengo mantém a defesa do que considera direitos estatutários e aposta na resolução técnica do impasse para preservar receitas e previsibilidade financeira do clube.
Data da matéria: quinta-feira, 09/10/2025.