BRASÍLIA — Churrasco e pipoca, camisas no varal, música alta, animação e muito “Em dezembro de 81”. Pela primeira vez em mais de um ano, uma partida do Flamengo voltou a ter torcida e, mesmo sem o estádio lotado, o clima de jogo estava presente. Mas apontado como um exemplo de que é possível ter torcedores de volta, fora do Mané Garrincha era comum também o desrespeito aos protocolos contra a Covid. Houve aglomeração durante o pré-jogo em torno dos vendedores ambulantes, todos concentrados em um dos portões do estádio. Para piorar, boa parte dos torcedores não usava máscara.

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Com apenas 25% da ocupação do estádio liberada em Brasília, o movimento foi bem distante de uma partida normal, mas isso não impediu que os torcedores levassem ao Mané Garrincha parte do ambiente de uma noite de Libertadores, da reunião de amigos, a apreensão pré-jogo e os comentários sobre as outras partidas que aconteciam no mesmo horário.

Para tentar diminuir a chance de contágio entre torcedores, a organização ofereceu gratuitamente máscaras para os torcedores. Antes de entrar, funcionários também mediam a temperatura de todos os torcedores. A fiscalização do lado de fora, entretanto, era bem menos rígida. Na prática, a maioria dos torcedores só colocava a máscara na frente da boca e do nariz pouco antes de entrar no estádio.

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Pelo menos 200 pessoas ficaram concentradas em volta das barracas que voltaram a aparecer no entorno do estado. Havia policiais nas proximidades, mas nenhuma medida foi tomada para distanciar os torcedores que ficaram reunidos. O espaço aberto em que se encontra o Mané Garrincha e os diferentes portões de acesso impediram uma aglomeração maior e o diminuiu o risco de contágio.

Assim como os torcedores, o GLOBO também flagrou muitos vendedores que não usavam máscaras. Nesta quarta-feira, o governo do Distrito Federal confirmou novos casos da variante dela no estado. Ao contrário dos torcedores, não havia exigência de vacinação ou teste negativo para eles.

A liberação de torcida nos estádios tem sido defendida pela diretoria do Flamengo há alguns meses. Os clubes brasileiros foram pressionados financeiramente com a suspensão do público nas partidas, já que ficaram sem o dinheiro que vinha da bilheteria, principalmente os times que vinham levando grande público, como era o caso do Rubro-Negro.

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A volta do público também foi defendida pelo presidente Jair Bolsonaro recentemente. Antes da partida, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência vistoriou o estádio e confirmou que o presidente deverá ser mais um torcedor ilustre no estádio. A presença do vice, Hamilton Mourão, torcedor rubro-negro, também era esperada.

Aos 32 anos, o torcedor Hernando José era uma das exceções fora do Mané Garrincha. Usando uma máscara do modelo recomendado pelos especialistas, demonstrou ansiedade. Hernando estava na torcida em fevereiro de 2020, quando o Flamengo disputou a Recopa Sul-Americana com o Athletico Paranaense também em Brasília. Nos últimos anos, com o clube visitando a capital federal, se acostumou a ir nos jogos da equipe.

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Ao saber que o público seria liberado na partida em Brasília, não pensou duas vezes antes de ir à partida com um amigo, sentimento que muitos torcedores apaixonados deverão sentir nos próximos meses, acredita.

— Agonia total. Ficamos na agonia para vir, vontade grande. Não tive tanto receio porque lá em casa já está todo mundo vacinado — afirmou Hernando José.

O torcedor acredita que o retorno dos torcedores é uma medida bem-vinda. Segundo ele, o ritmo da vacinação no país, com mais de 100 milhões de doses aplicadas, garante alguma segurança para quem quiser voltar aos estádios.

— Tem que superar isso, claro que temos que lamentar todas as vidas que se foram, mas respeitando os protocolos, acho que é seguro. O estádio é aberto. O ruim é quando tá muito jogado, a capacidade total eu não concordo, mas acho que tem que voltar à normalidade. Senão, nunca volta — disse.