Apenas quinze dias após sua chegada ao Flamengo, Rogério Ceni terá o desafio de inaugurar a fase eliminatória do clube na Libertadores. A equipe enfrenta o Racing, nesta terça-feira, 21h30, na Argentina, aliviada pela primeira vitória do novo comandante no último fim de semana, pelo Brasileiro, e embalada pelo aniversário de um ano do bicampeonato.

O período para Ceni conhecer o elenco e dar sua cara ao time foi curto, sobretudo se comparado aos dois técnicos que se tornaram parâmetro de sucesso e fracasso desde a conquista. Jorge Jesus teve um mês e quatro dias para treinar o time e disputou quatro jogos até a estreia. Já Dome jogou dez partidas do Brasileiro em um período de 45 dias até seu primeiro compromisso na competição sul-americana.

A receita de Ceni para compensar a falta de treinos e jogos inclui usar a experiência que tem no torneio. Se os dois antecessores nunca haviam jogado a Libertadores, o ex-goleiro do São Paulo a conquistou duas vezes em campo, em 1993 e 2005. Rogério é o brasileiro com mais jogos na história do torneio, com 90 aparições, e quinto no geral.

O outro ingrediente, mais prático do que teórico, foi a qualidade dos treinos, que chamaram a atenção de todos no Flamengo. Se não teve como repetir as sessões entre os jogos em tão pouco tempo, o técnico procurou fazer de cada uma um momento de aprendizado máximo do elenco.

Técnico precisa começar do zero

Um exemplo foi no dia seguinte à eliminação na Copa do Brasil, em que promoveu uma atividade considerada de alto nível para os reservas. Para isso, aproveitou que está hospedado no Ninho do Urubu e acordou de madrugada para preparar os campos. Também já madrugou para estudar adversários — entre eles o Racing.

Outra aposta são os vídeos mostrado aos jogadores – quase todo dia. As conversas com o grupo também têm atenuado a falta de tempo para a prática. Desde que chegou, Ceni se aproximou das lideranças para entender como estava o vestiário. Detectou um time esgotado mentalmente e ressaltou o compromisso de todos pelos resultados. Os discursos nas entrevistas foram bem vistos internamente.

Além do empenho em trabalhar, Ceni teve tato para as cobranças. E não fez terra arrasada. Buscou, ainda, se informar sobre todos os setores do futebol do clube, após se assustar com a parte física do time e a quantidade de lesões. Nos treinos, o técnico cobra muito e é visto como exigente, com uma característica mais próxima de Jesus do que de Dome. Interage com os jogadores, mas cobra de forma enérgica, ainda que se sensibilize pela situação dos jogadores.

Depois da estreia contra o São Paulo, por exemplo, o treino do dia seguinte foi marcado para o período da tarde, para dar tempo dos jogadores descansarem. A comissão de Dome marcava os treinos para a manhã. Com mais tempo de descanso, Ceni pôde exigir mais do grupo e treinar por mais tempo. A intensidade nas atividades é outra.

A mudança de ares com a troca é total. A herança deixada para Ceni é considerada zero. Em termos táticos, técnicos e físicos. O novo treinador trouxe um analista de desempenho e três membros de sua comissão para dar nova cara e resgatar um pouco do trabalho de Jorge Jesus. O foco tem sido em todas as frentes, com ênfase na parte física. Em novo rumo, e sob novas ideias, o Flamengo começa a busca pelo tricampeonato sem brecha para uma nova oscilação. Ou para um novo erro da diretoria.

Quarteto reunido

Para ajudar o trabalho do novo treinador, o Flamengo terá à disposição o quarteto que comandou a equipe no título do ano passado. Com a volta de Gabigol, o ataque pode voltar a ser formado por ele, Bruno Henrique, Arrascaeta e Everton Ribeiro depois de três meses. Em função de lesões, o Flamengo não conseguirá ter sua força máxima, já que Pedro ainda se recupera de problema muscular e Thiago Maia sofreu lesão no ligamento do joelho e só joga em 2021.

Se o ataque está reforçado, a defesa também. Apesar de ainda não ter Rodrigo Caio, com lesão muscular, Ceni terá de volta os laterais titulares. Poderá contar com a força de Isla e a capacidade técnica e tática de Filipe Luís, que costuma ser a voz do treinador em campo. Até agora, as principais alterações no time foram no setor, que estava sofrendo muitos gols. Ceni barrou os zagueiros Natan e Gustavo Henrique após falhas individuais e tem apostado na dupla Thuler e Léo Pereira.

Vale lembrar que Thuler era a última opção tanto com Jesus como com Dome. O jovem atuou contra São Paulo e Coritiba, após se destacar nos treinos. No último jogo, observou-se evolução do time. Mas o verdadeiro teste será na Libertadores.