Único time de fora de São Paulo a vencer o Brasileirão Feminino no formato atual, o Flamengo Marinha tem caído de produção desde que conquistou o título em 2016. O baixo desempenho contrasta com a série de conquistas do time masculino, o que levanta o questionamento sobre o interesse do clube em desenvolver a modalidade. Quem tem a chance de quebrar a sequência de títulos paulistas é o Avaí Kindermann, que recebe o Corinthians hoje, às 20h, na partida de ida da decisão (transmissão pela Band, Espn e Twitter).

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Em sete edições do Brasileiro, os paulistas venceram seis vezes, sendo que as últimas três finais foram disputadas apenas por equipes de São Paulo. O Flamengo foi o último a quebrar esse padrão, mas a chance do time carioca voltar a alcançar esse feito parece cada vez mais distante. Depois de uma sequência de quedas nas quartas e nas semifinais, o rubro-negro não conseguiu se classificar para a segunda fase nesta temporada.

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O que explica parte da queda de produção é a saída de atletas. O Fla perdeu nove jogadoras importantes neste ano, e mesmo com a chegada de 12 novas, não manteve o padrão. A troca do treinador também impactou: Ricardo Abrantes saiu e seu auxiliar Celso Silva assumiu em uma tentativa de continuar o trabalho.

— Nosso objetivo na temporada não foi alcançado. Tínhamos planejado estar entre as oito equipes classificadas e, a partir desse contexto de classificação, a gente traçaria novas metas. No entanto, com essa colocação, algumas limitações por lesões, Covid, etc, não conseguimos, e isso comprometeu o que havíamos pensado para a competição — afirmou Celso Silva.

Mas os últimos Brasileiros também mostraram a diferença no investimento.

— O investimento maior de outras equipes elevou o nível do campeonato, e para o Flamengo será preciso algo a mais do que vem sendo feito até aqui — afirma a jornalista Luciana Zogaib, do Damas do Esporte e narradora da Rádio Ferj.

Flamengo/Marinha é pentacampeão carioca Foto: Marcelo Cortes / Agência O Globo

Enquanto o Flamengo começa a ter dificuldades no cenário nacional, no Carioca o domínio é absoluto. O rubro-negro venceu as últimas cinco edições, mas em 2020 a Ferj decidiu cancelar o torneio por causa da pandemia — apenas o masculino foi retomado. Enquanto isso, o Paulistão Feminino segue sendo disputado e com nomes sempre lembrados nas convocações da técnica Pia Sundhage para a seleção brasileira.

— Uma das reclamações a respeito da modalidade é a falta de patrocínios e de visibilidade. O diferencial da Federação Paulista foi passar a tratar o feminino como um modelo de negócio e um investimento a longo prazo — afirma Juliana Arreguy, jornalista do “UOL” especialista em futebol feminino.

Sem time próprio

O Flamengo segue com a parceria com a Marinha desde 2011, e apenas cede a camisa às atletas. A colaboração com outras instituições se tornou comum no futebol brasileiro quando times masculinos na Série A passaram a ter obrigação de contar com time feminino para disputar competições internacionais. Mas até times pequenos, como o Íbis (PE), já contam com equipe própria.

— No reinício do futebol feminino brasileiro o Flamengo largou na frente por que já tinha essa parceria com a Marinha, e a modalidade naquela época estava muito ebrionária. Mas o projeto do Flamengo nessa atual direção ficou obsoleto, por que os outros times se antenaram a começaram a contratar grandes jogadoras — afirma Cintia Barlem, jornalista do “ge” especilaista em futebol feminino.