Corrida das mulheres maravilhas anima manhã no Flamengo

O locutor deu o tom: “Olha só, tem mulher que nem parece que correu. Está com maquiagem e cabelo intactos”. E não eram poucas. Cerca de 10 mil participaram neste domingo da Corrida Mulher Maravilha, de 4km ou 8km, que foi realizada no Rio de Janeiro pela primeira vez. O evento temático faz parte do calendário de corridas de rua mas a grande maioria não acordou cedo com o objetivo de baixar o tempo ou fazer a melhor marca pessoal. As heroínas queriam mesmo é se divertir. Por isso, turbinaram o look e capricharam nas selfies. O kit, com short-saia azul, camiseta vermelha e dourada e uma viseira, todos com o símbolo da princesa Diana e incluídos no preço para a inscrição (R$ 155), combinavam com acessórios extras, como meiões com estrelas, capas e braceletes. Algumas, para lacrar de vez, estavam até com escudo e com a famosa corda dourada presa à cintura.

– Não vim para fazer tempo, vim para divar – avisou Malka Brum, de 44 anos, maquiada, purpurinada e com adesivo de estrelinha na unha.

Integrante do grupo Sebo nas Canelas, ela está acostumada a correr quase todos os finais de semana mas ficou surpresa com sucesso deste formato.

– Quem não quer ser a Mulher Maravilha? Nunca vi isso, esse barulho todo. O kit mais barato esgotou rápido e quase não consegui comprar. Vi que já vendiam na internet por R$ 300. Parece ingresso de Rock in Rio ou de decisão do Flamengo.

No embalo do filme que estreou em junho, o evento bombou. As inscrições, que começaram em janeiro, se esgotaram em março. Além do uniforme de corrida e sacola, o kit tinha esmalte e vale depilação a laser (o mais básico, de R$ 95, acabou antes). A primeira corrida foi em São Paulo, em maio. E em novembro, terá outra em Brasília.

Valéria Sobral, de 49 anos, tirava onda. Exibia a medalha com a águia, símbolo da heroína, que ganhou na capital paulista, antes mesmo da largada no Aterro do Flamengo.

– Corri lá e agora corro aqui. Estou enlouquecida desde janeiro pensando no modelito – falou a comerciante que não perdeu tempo. – Vi que tinha sido um sucesso em São Paulo e confeccionei meias compressoras, capas e tiaras. Vendi tudo! Eu não sou boba. Sou mal aproveitada.

Valéria, que estava acompanhada da neta Maria Flor, de 4 anos, vendeu, pela internet, 400 pares de meias azul com estrelas, 30 tiaras, 30 capas e 20 espadas. Disse que vai usar o dinheiro para “seus caprichos”.

– Agora estou na expectativa da Corrida Liga da Justiça, que tem a Mulher Gato, né? E já recebi encomenda de meia do Batman, Super Homem e até do Lanterna Verde. Porque os homens também querem se divertir – contou Valéria, sobre outra corrida do gênero, mas que não tem programação para o Rio (será em novembro, São Paulo).

A corrida Mulher Maravilha, antes, durante e depois, foi uma festa. Filas e mais filas se formaram para as fotos nos painéis temáticos, no salão para fazer o cabelo e a maquiagem, e também no estande que vendia botas vermelhas de verniz (R$ 180), chinelos com pompom (R$ 80) e outras lembrancinhas.

Durante o percurso, as corredoras paravam para tirar foto ou em grupo ou selfies, e faziam pose com os braços esticados ou cruzados para os fotógrafos que trabalhavam no evento. Quando a líder dos 4km passou perto de um grupo de meninas, ouviu gritos de incentivo: “Vai Maravilha!!! Você nos representa”. Outra mulher ganhou destaque: empurrando um carrinho de bebê, foi uma das primeiras a cruzar a linha de chegada após 4km.

Homens? Tinha também. Inscritos conjuntamente com as mulheres, eles eram coadjuvantes. Correram separados das meninas, com a camiseta do Trevor, o namorado de Diana, cuja patente é a de Capitão da Força Aérea dos Estados Unidos. Alguns poucos homens incrementaram o visual, como um corredor que colocou uma saia com estrelas em cima do short.

Sucesso mesmo fez Patrícia Abel, de 47 anos, uma das “irmãs cajazeiras”, inspiradas nas personagens da novela O Bem Amado. Alta, com 1m85, loira, com os cabelos soltos, e com a fantasia completa da Mulher Maravilha, transformou-se em atração. Também fizeram fila para tirar foto com ela. Ao lado de Mônica, de 52 anos, e Márcia, de 51 anos, as outras duas irmãs, Patrícia correu 4km.

– Adoramos que esta corrida teve um tema porque a gente sempre arruma um para as corridas. Na Meia Maratona na semana passada a gente se vestiu de unicórnio – contou Mônica.

Segundo o publicitário Thadeus Kassabian, dono e diretor da Yescom, uma das maiores organizadoras de eventos de atletismo e ciclismo no Brasil, as corridas temáticas, associadas a personagens ícone, são tendência mas há limite.

– As corridas temáticas são a principal porta de entrada para o mundo das corridas. Porque as pessoas se empolgam e depois podem começar a treinar para correr por tempo ou para superação. Mas acredito que esse tipo de corrida tem seu limite. Não são tantas assim que pegam, que são sucesso – opina Kassabian, que explica: – Elas são festivas mas não são festas. É um evento esportivo com momentos de sociabilidade. As pessoas vão para correr e se divertir. A vida já é tão complicada, não pode tudo ser uma competição. As pessoas também querem diversão, sem estresse, insatisfação e frustração.

Ele lembra que as corridas temáticas começaram há mais de uma década, associadas à datas comemorativas como o Natal, Dia das Crianças e o Halloween. Mas também à causas como o combate ao câncer, por exemplo.

– A primeira temática que tivemos no Rio foi a ‘Partiu Globo’, que percorreu o Projac, incluindo os corredores dos estúdios e as cidades cenográficas e que voltará este ano.

Para as crianças, as opções são mais óbvias. A Disney realiza a Magic Run e também a Princess Magical Run, por exemplo. No próximo Dia das Crianças, 12 de outubro, vai acontecer o primeiro “Angry Birds Fun Run” no Rio e com a meta de, em 2018, levar a corrida também para São Paulo, Porto Alegre, Brasília e Salvador. Serão percursos de 2, 5 e 10km, no Boulevard Olímpico e na Orla Conde do Centro da cidade.

Fonte: https://oglobo.globo.com/esportes/corrida-das-mulheres-maravilhas-anima-manha-no-flamengo-21753521

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