A bagagem é de jogador experiente, mas os apenas 22 anos do armador Yago revelam um jogador ainda cheio de sonhos e objetivos. Uma das principais contratações do Flamengo na última temporada, o jogador rapidamente se adaptou, substituiu Franco Balbi a altura após lesão e se consolidou como um dos principais jogadores nas conquistas do NBB e Champions League das Américas. Acabou eleito MVP das finais do último nacional.

— Eu sabia que em algum momento isso viria para mim, acho que está no meu destino — diz.

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Em sua segunda temporada pelo rubro-negro, o armador conversou com o GLOBO sobre o dia a dia, as competições a nova experiência de ser comandado pelo mesmo técnico em clube e seleção.. Com elogios à vida no Rio de Janeiro e à torcida do Flamengo, o camisa 2 vive a expectativa de jogar pela primeira vez sob os olhos dos rubro-negros, o que não foi possível na última temporada por conta da pandemia.

— A expectativa está alta. Não sei como vai ser, só joguei contra. Ter eles a meu favor será uma coisa muito boa, mas não sei como vai ser porque nunca vivi isso. Estou bem ansioso, bem feliz por viver esse momento.

Atual campeão, o Flamengo estreia no NBB neste sábado, às 16h10, em visita ao São Paulo, com transmissão da TV Cultura. Campeão carioca no último dia 12, o time de Gustavo de Conti ainda disputa, nesta temporada, a Champions e o Mundial.

Você foi campeão do NBB, da Champions League das Américas na sua primeira temporada. Que avaliação você faz?

Mais que perfeita. Se tivesse que escolher uma palavra, não teria, por tudo que vivi aqui em tão pouco tempo. Num momento tão difícil que foi a pandemia, pudemos fazer tudo que a gente fez. Foi mais que perfeita por tudo que a gente conquistou e do jeito que foi. Às vezes, conquistar tudo (parece) tão simples, mas por trás disso tem muito trabalho, muita risada, muito desconforto. Chegar num time como o Flamengo tão novo quanto eu cheguei e poder se adaptar do jeito que foi… às vezes, vale mais que um título.

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Na temporada passada, você precisou substituir o Franco Balbi, que se lesionou gravemente. Como foi essa entrada repentina no time?

As coisas acontecem porque Deus quer, não importa onde e como. Infelizmente, o Balbi se machucou, mas eu sabia que haveria um momento em que eu teria que assumir responsabilidades. Lógico que estar num time que tinha Marquinhos, Olivinha, Balbi, eu não precisaria tanto ter a bola na mão como eu tinha no Paulistano. Mas eu sabia que em algum momento isso viria para mim, acho que está no meu destino.

Cheguei no Paulistano com 17 anos, não entrava tanto, mas nas finais eu era o primeiro cara a entrar no jogo. Eu sabia que isso ia acontecer, estou sempre preparado, procuro treinar o que eu preciso melhorar. Quando aconteceu, infelizmente como aconteceu, o time não decaiu, eles sabiam que eu, o Luke (Martinez) ou o Chuzito (González) poderíamos substituir e aumentar o nível. O elenco foi montado para isso. O Gustavo sempre preza isso, que não existe jogador titular, existe jogador que pode entrar e mudar o jogo. Foi isso que ele me ensinou a fazer, para isso que fui contratado.

Como você trabalha a motivação para seguir disputando os títulos?

Tudo passa pelas mãos do time, do Gustavo (de Conti, técnico), de todo mundo que está por trás, de não deixar nosso time entrar em zona de conforto. Desde quando eu comecei a trabalhar com o Gustavo, quando tinha 17 anos, ele sempre me cobrou muito. A partir do momento que cheguei aqui sabia que seria cobrado ainda mais. Ganhamos todos os títulos na temporada passada e assim que acabou e começaram as negociações, já conversaram comigo para eu voltar a treinar. Isso faz parte de não deixar a gente se acomodar e sempre buscar nossa melhor forma. Mesmo quando ganhar, melhorar ainda mais para fazer ainda mais coisas grandes, como fizemos no ano passado.

Yago celebra sucesso na primeira temporada pelo Flamengo Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo

Você trabalha com o Gustavo há algum tempo, como será agora também na seleção?

É um cara que me ensinou muita coisa e vem me ensinando ainda mais. A cada tempo que passa, ele se aprimora e eu também. É um cara em quem confio muito. Não só ele como os outros que trabalham com ele. O jeito dele trabalhar me acolhe muito bem. Aqui e, se Deus quiser, na seleção, é uma oportunidade muito boa. Mas é o que eu falei antes, ele não me deixa entrar em zona de conforto. Vai estar sempre me cobrando e confiando em mim não importa o que aconteça ao longo do jogo. É uma experiência muito boa que eu estou tendo, já tive e espero ter por muito tempo.

Você começou a atuar desde cedo, com 17 anos, hoje tem 22. Já se considera um jogador experiente?

Às vezes falam que eu sou experiente por tudo que eu vivi em tão pouco tempo. Mas eu ainda não. Tenho idade pra disputar LDB (liga de desenvolvimento do NBB) . Mas me considero um cara que já viveu muitas coisas. Se eu chegar em uma final amanhã, vou saber como lidar. Mas também sei que sou muito novo e preciso aprender muita coisa. Muita coisa que ainda não vivi e pretendo viver o mais rápido possível, como foi. As coisas foram muito rápidas, cheguei no Paulistano com 17 anos, já disputei uma final de NBB. Com 18 anos, já fui campeão do NBB e paulista, já estava na seleção. Essa certa experiência para mim chegou muito cedo, mas me considero um jogador que tem muita coisa para evoluir. Isso é o que me deixa mais animado,ver o jogador que vou me tornar daqui a três ou quatro anos.

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Como foi a disputa do Pré-Olímpico com a seleção?

Estar ali, tão perto. Ganhar os jogos, ir invicto para a final. Estar tão perto de disputar uma Olimpíada, que é o patamar mais alto de um atleta, e de repente você vê que está próximo de conquistar. Estar ali foi muito bom, poder jogar no nível que joguei. Sei que eu e os outros jogadores queríamos muito essa vaga e por detalhes não conseguimos. Mas sabemos que estamos no caminho certo. Poder jogar como jogamos contra grandes seleções desde o Mundial. Temos que evoluir agora com o comando do Gustavo e outras gestões. Tem tudo para melhorar ainda mais o que já estava melhorando. Se deus quiser, que a gente possa voltar no próximo ciclo olímpico e representar bem o Brasil.

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Profissional desde os 17, Yago está com 22 anos Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo

Ainda não teve contato com a torcida no ginásio. Mas e nas ruas, nas redes sociais?

Desde quando eu saí do Paulistano e até quando jogava contra eu via aquele carinho que eles tinham pelos atletas. Viver isso é uma coisa muito boa. Quando saí, já recebia muita mensagem querendo que eu viesse para cá e eu já estava acertando realmente com o Flamengo. Lembro que vim ver alguns apartamentos, acabei indo no shopping para almoçar e encontrei torcedores do Flamengo. Me reconheceram, foi um início muito bom. Ainda não peguei um ginásio cheio ao nosso favor, mas dá realmente para sentir o carinho. Sempre que acaba ou antes dos jogos eles mandam mensagem. Dá para ver que o carinho que eles têm por mim é recíproco. Sempre gostei da torcida do Flamengo, sempre admirei e quando jogava contra, falava “caramba, um dia quero ter isso a meu favor”. Graças a Deus, como está voltando tudo ao normal, vamos poder realizar esse sonho.

O que espera do encontro com a torcida no ginásio?

A expectativa está alta. Não sei como vai ser, só joguei contra. Ter eles a meu favor será uma coisa muito boa, mas não sei como vai ser porque nunca vivi isso. Estou bem ansioso, bem feliz por viver esse momento. É isso que me anima ainda mais, estar feliz aqui no clube com as pessoas que me respeitam, que gostam de mim. Quando você tem isso, as coisas fluem naturalmente. Tenho certeza que quando tivermos esse contato com a torcida, vai ser uma coisa muito marcante.

O que gosta na cidade? Como está sendo a vida por aqui?

Eu amo o Rio desde quando vim para cá pela primeira vez, com 12 anos. É muito diferente de São Paulo, o jeito das pessoas lidarem. Eu saio de casa nove da manhã e tem gente indo pra praia, isso deixa o clima mais leve. Não é aquele trânsito, aquela correria do pessoal indo para o trabalho.

Gosto muito de ir para a praia, de ir ao cinema. Minha família vem muito pra cá, eles gostam muito. Eu amo essa cidade, amo tudo que tem nela, quando viajo fico olhando a paisagem. Eu morei muito tempo em São Paulo, são as duas cidades em que morei. Gosto de São Paulo também, mas gosto muito daqui.

Quais são seus hobbies fora das quadras?

Eu curto jogar video game. É algo que não passo a maior parte do tempo, mas jogo muito. Há pouco tempo atrás, voltei a estudar inglês. É uma coisa que estou aprendendo a gostar bastante. Gosto de passear também, andar pela cidade quando minha namorada e meus sobrinhos estão por aqui. Gosto de ir para academia também, algo que aprendi a gostar.

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Video games, inglês e passeios pela cidade são os hobbies do jogador Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo

Você mantém um projeto social, “Monstrinho” em Tupã, sua cidade natal.

Fiquei muito feliz de poder fazer parte disso, com a minha família principalmente. Foi de onde a gente saiu. A Casa do Garoto (ONG local parceira do projeto) foi onde eu aprendi muita coisa, onde eu ficava a maior parte do tempo. É um lugar que eu devo muito, Tupã, a Casa do Garoto, que montavam time para a gente jogar, que me levou para vários lugares. Poder voltar com o basquete por lá e dar uma oportunidade de olharem o basquete de outra forma, praticar esporte. Estou devolvendo um pouco que o basquete me deu para um lugar que eu tenho carinho. Que esse projeto cresça ainda mais e possa surgir outros Yagos, Kobre Bryants, Oscars.

O elenco do Flamengo passou por mudanças, mas entra sempre como favorito. Quais são suas expectativas?

Mudou muita coisa, jogadores que vestiram a camisa por muito tempo, que já sabiam o esquema de jogo. Chegaram jogadores novos de muita qualidade e leva um tempo para se adaptar, se conhecer. Estamos no caminho certo, fizemos grandes amistosos, grandes jogos. Lógico que essa pré-temporada, como costumamos dizer, é sempre mais difícil, mas quando a gente pegar o ritmo, as coisas vão dar tudo certo como estão dando e, se Deus quiser, poderemos representar o Flamengo em finais, como deve ser.

No seu estilo de jogo, você costuma partir pra cima, pra infiltração, pro drible. É como você gosta de jogar?

Desde a base eu fui criado assim, foi assim que eu aprendi a jogar. Não importa quem esteja do outro lado, eu vou querer fazer a cesta. Não importa que digam que eu sou baixo, que sou um pouco fraquinho, eu vou fazer a cesta. Quanto mais me desafiam, melhor me torno.

93009100 Craque do Flamengo no NBB, Yago anseia por encontro com a torcida e celebra sucesso na chegada: 'Está no meu destino'
Yago atuando pelo Flamengo Foto: Paula Reis / Flamengo

Você tem algum grande ídolo no basquete?

Eu tenho ídolos, são pessoas que eu olho bem de perto. Um deles eu tenho prazer de conviver, que é o Marcelinho Huertas, um cara que se tornou um amigo, que conversa muito comigo, me ensinou muita coisa desde que eu cheguei na seleção. Acompanho muito também e posso ter uma boa conversa com o Facundo Campazzo. Olho muito também Stephen Curry, LeBron James e o jeito dele comandar o time. O Isaiah Thomas, quando estava na NBA, também. São jogadores que lideram o próprio time e são vencedores. Quanto mais pessoas eu olhar dessa maneira, se eu puder pegar um pouco de cada, vai ser uma coisa muito boa.

Sonha com NBA?

É meu maior sonho. Desde quando eu tinha 6 anos de idade eu falava que queria jogar na NBA. Não sabia o que fazer, até hoje não sei, mas se depender só de mim, vou realizar esse sonho, pelo trabalho e pelo que tiver que ser feito. É o sonho de todo atleta, quem disser que não sonha em jogar na NBA está no esporte errado. Tenho essa ambição e se Deus quiser vou realizar esse sonho que não é só meu, é da minha família e amigos.