Deserto tático: os desafios de Jorge Jesus ao dizer ‘sim’ ao Flamengo

Por: Luiz Biriba

Um Flamengo que pensa fora da caixa e um treinador estrangeiro ávido por novos desafios. O resultado está longe de ser previsível, sobretudo em se tratando de Flamengo e diante da impaciência que habita o futebol brasileiro há décadas. No entanto, ao fugir do ‘mais do mesmo’ que jogou um semestre inteiro pelo ralo, quais são, de fato, os desafios que Jorge Jesus terá frente ao deserto tático em vermelho e preto que observamos em campo?

INTENSIDADE SEM A BOLA

O treinador português enalteceu, desde sua chegada, a qualidade e a intensidade do jogador brasileiro com a bola nos pés, na busca constante pelo gol. Em um time com vocação ofensiva histórica como o Flamengo e com um elenco recheado de boas opções, o que pode haver de problemático? Segundo Jesus, exatamente o momento em que o time perde a bola, quando precisa se recompor com rapidez e automaticamente pressionar o adversário com marcação alta. Tornar isso padrão exige, sobretudo, treinamento. Quantas vezes vocês viram, só em 2019, Gabigol – ou qualquer outro jogador – pressionar o goleiro e o restante do time não acompanhar a intensidade?

LINHAS PRÓXIMAS

Gostemos ou não, o melhor futebol do mundo está na Europa. E copiar o que dá certo não é sinônimo de fraqueza, mas de inteligência. Linhas próximas têm tudo a ver com intensidade. Quanto mais próxima a defesa do meio-campo e este do ataque, maiores as chances de intensificar a recuperação da bola. E o melhor: com menor desgaste e em menor tempo. Naturalmente, é preciso encaixe entre os setores e condição física. Vocês se lembram do espaçamento do time no jogo contra o Atlético-MG, precisando da vitória? Uma metade do time defendia e a outra metade atacava com bolas longas. O setor de meio-campo era um verdadeiro deserto.

POTENCIALIZAR INDIVIDUALIDADES

É clichê, mas é real: é o jogo coletivo potencializa o talento de cada jogador. Se é verdade que os méritos das boas vitórias e classificações em 2019 passaram pela individualidade de nossos jogadores, também não deixa de ser que não vimos, até agora, jogadas ensaiadas, laterais chegando com frequência ao fundo e infiltrações para confundir a defesa adversária. Para não ser injusto: contra o Fortaleza, tivemos uma jogada – a do primeiro gol – trabalhada. Mas por competência individual, não por característica de time. Para isso, será preciso organização, as tais linhas próximas e a intensidade desejadas.

E, como nada nasce pronto, aos jogadores caberá comprar as ideias do técnico e à diretoria dar o respaldo necessário para que Jorge Jesus tenha o tempo que precisa para transformar teoria em prática. Serão, primeiramente, 20 dias para ‘vencer e convencer’, para depois, no decorrer do ano ‘ganhar, ganhar, ganhar’, como deseja o novo comandante Rubro-Negro.

Transformação: esse é o processo pelo qual o time deve passar dentro de campo. Projeto para grandes conquistas: para isso Jorge Jesus foi contratado. Porém, caso aquela mesma impaciência que vocês leram no início do texto predomine e interrompa o trabalho, ficará provado que o Flamengo procura não um técnico, mas um mágico.

Fonte: https://colunadofla.com/2019/06/deserto-tatico-os-desafios-de-jorge-jesus-ao-dizer-sim-ao-flamengo/

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