Diego decreta fim do "cheirinho" no Flamengo: "Hoje em dia temos aromas mais que especiais aqui"

Diego na festa de comemoração pelo título da Libertadores — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Um dos jogadores do Flamengo com mais tempo de casa, Diego chegou ao clube em julho de 2016. Em três anos e meio, foram 158 jogos, 38 gols e momentos marcantes, tanto para o bem quanto para o mal. O camisa 10, por exemplo, pegou desde o início o estigma do "cheirinho de hepta", que começou como um movimento criado pela torcida e acabou virando um prato cheio para zoações dos rivais pela seca de títulos rubro-negros de expressão.

Mas após a façanha de conquistar a Copa Libertadores e o Campeonato Brasileiro nos últimos dias, Diego tratou de colocar uma pedra em cima do velho trauma e decretar o seu fim. Depois de muita espera, chegou o momento que o meia tanto sonhou, e agora ele até brinca que está com tendinite no ombro de tanto levantar troféus:

– Comecei a fazer um trabalho especial para fortalecer aqui porque a pegada está bonita (risos). Até difícil definir em uma palavra só, mas o que está acontecendo realmente é excepcional. Estamos assimilando ainda o que aconteceu, o que está acontecendo. É um ano histórico e merece todo tipo de comemoração – festejou.

Em entrevista exclusiva para o Esporte Espetacular no Ninho do Urubu, na última sexta-feira, Diego passou a limpo sua trajetória no Flamengo ao reviver situações marcantes dos últimos três anos e meio. E se emocionou com mensagens da família.

Confira cada um dos momentos que o programa escolheu e o que o camisa 10 respondeu:

Chegada com AeroFla

– Onde tudo estava começando, minha chegada no Santos Dumont. Uma recepção que já mostrava o que iria ser essa minha aventura e desafio aqui no Flamengo. Muita emoção, com muita intensidade em todos os momentos. Já pude sentir o calor da nação rubro-negra ali.

– Aquele frio na barriga, aquela emoção, aquele prazer. Os dias foram passando, e meu amor e respeito por esse clube só foram aumentando depois desse momento.

Zoações com "cheirinho"

– Isso foi uma situação criada não por nós jogadores, isso apareceu e a gente tem que saber lidar com o que vai surgindo pelo caminho. Durante todo esse processo, até chegar ao nível que estamos hoje, a pressão é muito grande. E muitas vezes o pessoal acaba tirando sarro também. Tem que estar preparado para isso, tendo a convicção do que vem pela frente.

– E o que falei nessa altura continuo falando: são cheirinhos, aromas, como quiserem chamar, que só se sentem vestindo o manto sagrado. E hoje em dia temos aromas mais do que especiais aqui: Libertadores, Brasileiro e uma grande oportunidade no Mundial. É um privilégio sentir esses aromas.

Títulos como resposta

– Sinceramente, eu entendo. Não faz parte da minha maneira de ser, ficar tirando sarro dos adversários, enfim. Sempre fui assim? Não, quando mais novo já tive mais essa preocupação em querer responder. É claro que toda ação gera uma reação, e algumas coisas que têm acontecido são apenas reações do que nós sofremos nessa caminhada.

– Mas o que tenho a dizer é que estamos em um nível em que temos que nos preocupar mais em desfrutar do que conquistamos do que ficar falando dos adversários. Aqueles que falaram naquele momento foram oportunistas, aproveitaram o momento que poderiam, porque sabiam que esse momento iria chegar. E chegou.

Discussão com torcedor no aeroporto

– Aquele momento de tensão, discussão, não pode faltar também. No primeiro vídeo eu assumi uma grande responsabilidade de vir para o Flamengo, ser referência. E nós só demos o primeiro degrau, o restante não. Então durante todo esse processo vitorioso houve situações que fugiram do controle, como é o futebol.

Diego recebeu o Esporte Espetacular no Ninho do Urubu na última sexta-feira — Foto: Ivan Raupp

– O que eu procurei fazer, entre erros e acertos, foi estar ali para dar uma satisfação, tentar explicar ou assumir responsabilidade quando precisou. E futebol envolve emoção, houve momentos de protesto, um certo descontrole, mas nunca desrespeito ou falta de crença naquilo que eu tenho na minha cabeça, que é vencer e alcançar grandes objetivos.

– Esses momentos me dão propriedade para dizer que passei por tudo com essa camisa. Isso ninguém me tira. Foram esses momentos de dificuldade que me fortaleceram, me ajudaram a ser melhor, e não me arrependo de nada. Eu escolhi o Flamengo várias vezes, tive várias oportunidades de sair, e todas me fortaleceram em direção ao meu sonho. E hoje estar onde estamos para mim significa muita coisa.

Lesão contra o Emelec

– Esse aqui dói até hoje, foi a lesão mais grave da minha carreira em um dos anos mais importantes da história do clube. No primeiro momento um susto muito grande, porque a sensação do osso quebrando é inconfundível. Depois gratidão por não ter sido mais grave, porque poderia ter sido. Raiva por justo nesse momento tão importante ter que ficar fora com uma lesão desse porte.

– Foi uma mistura de sentimentos, eu fui assimilando aos poucos, mas logo coloquei na cabeça que nada nem ninguém iria tirar de mim essa vontade, esse sonho que sempre tive no coração de ser campeão com o Flamengo da Libertadores, do Brasileiro… Ainda temos sonhos pela frente.

– Quando caí, foi um golpe muito duro, meus companheiros foram fundamentais para continuar sonhando. E a raiva foi porque eu sabia que esse momento iria chegar e que estávamos em direção a ele. Por mais que os resultados naquele momento não eram espetaculares, mas algo estava sendo construído. E o grande momento estava próximo.

– Ficar fora nessa situação foi muito delicado, mas hoje posso dizer que foi o maior aprendizado da minha vida e de alguma maneira cooperou para o bem. Ter superado tudo isso, é uma história muito longa, tornou tudo mais especial. Hoje é respirar fundo e sentir essa felicidade que tanto esperei.

Retorno na semifinal contra o Grêmio

– Fui para o hospital tirar radiografia para ver o que tinha quebrado. Ali confirmou que foi a fíbula, não a tíbia, que poderia ter sido muito pior. Logo que saí, dentro da ambulância, liguei para o Dr. Tannure: "Dr. já viu o exame? Podemos falar de prazo ou está muito cedo?" Ele falou: "Podemos. É uma lesão gravíssima, não só óssea, mas ligamentar. Mas vamos fazer o máximo para voltar o quanto antes. É uma recuperação de quatro a cinco meses".

– Logo depois da cirurgia, peguei o calendário e falei: "Quero voltar aqui, nesse jogo de volta da semifinal da Libertadores". Tudo trabalhou a favor, minha cabeça, meu corpo, e Deus sempre esteve ao meu lado para me fortalecer e me dar esse presente. Foi uma grande vitória, e eu sempre acreditei.

– Quando ele entrou naquele dia, foi um dos momentos mais emocionantes que já vi na carreira dele – disse um emocionado Davi, filho de Diego.

Davi participa da entrevista e ganha um abraço do pai coruja — Foto: Raphael Cyrne

Palavras de Jesus antes de entrar na final

– Ele vai ficar bravo comigo (risos). Lembro muito pouco das informações que ele estava dando táticas. Eu estava tendo a minha leitura junto com ele, mas já tinha na cabeça o que eu poderia fazer para o time, analisando. Só lembro quando fui sair, ele falou: "Vem cá, dá-me um beijinho que vai fazer um gol" (risos).

– Ali saí, fui em direção ao campo, mas já estava tudo na minha cabeça: "Deixa eu ir, deixa eu ir". Mais um grande momento, que maravilha. A vida é isso, uma coleção de momentos especiais. Que privilégio viver isso, entrar na final, poder de alguma forma contribuir e retribuir para os meus companheiros pelo que fizeram por mim. Sem eles não teria vivido isso.

– Desde a homenagem que fizeram para mim no jogo no Maracanã (contra o Emelec), com a minha camisa, foi muito lindo. Que final. O Flamengo tem muitos sonhos ainda, e eu quero participar, ajudar na realização desses sonhos. Mas que final maravilhoso de Libertadores, como as peças se encaixaram. Que alegria, emoção. Faz todo esforço valer a pena.

Participação nos gols sobre o River

– Participei. De alguma maneira, sim. É muito difícil entrar no decorrer do jogo, numa final de Libertadores, porque está todo mundo a 200 km/h. Tem que entrar a 200 km/h também, não tem tempo para aquecer mais, assimilar e entender o jogo. Graças a Deus eu consegui, estava vivendo o jogo já de fora e pude entrar no ritmo dos meus companheiros.

– Dei carrinho no passe do Pratto, depois chegou o Arrascaeta também. Fizemos o primeiro gol. Logo em seguida, dou o lançamento para o Gabi. Ele pediu a bola, e falei: "Agora! O homem está iluminado". Pude participar diretamente desse gol. A partir dali foi choro, sorriso, alegria. Faltavam alguns minutos ainda, mas foram momentos que lembro de cada detalhes. Vivendo ali de dentro e contribuindo foi ainda mais especial.

Semelhança com a Copa América de 2004

– Muita semelhança. Logo depois do jogo, o Juan e o Júlio César, que estavam nessa Copa América de 2004, relembraram isso. Falei: "Que espetáculo!" Mesmo país, cidade, um lance parecido, dois canhotos, dois ídolos da nação…Mais importante o final: troféu nas mãos, um jogo tão importante, de tanto peso, tão decisivo… É, tem coisas que acontecem na nossa vida que não tem como explicar, tem que sentir.

Fonte: https://globoesporte.globo.com/programas/esporte-espetacular/noticia/diego-decreta-fim-do-cheirinho-no-flamengo-hoje-em-dia-temos-aromas-mais-que-especiais-aqui.ghtml

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