SÃO PAULO – O Flamengo está quebrado? O endividamento rubro-negro subiu ou caiu no decorrer de 2017? Acirrado pela atmosfera eleitoral que toma a Gávea a partir deste segundo semestre, o assunto voltou à tona nas redes sociais e tem causado confusão na torcida. A resposta curta é: não, o Flamengo não está quebrado. Nem a sua dívida aumentou em 2017. Mas é recomendável que o torcedor se atente à resposta longa para entender os riscos para as finanças de seu clube.
As dívidas rubro-negra somaram R$ 450 milhões no ano passado – a soma de tudo o que precisa ser pago em dinheiro, menos o montante disponível em caixa. O número é 9% inferior ao que havia sido registrado no ano retrasado. Especificamente em relação a ações judiciais movidas por seus credores, esse número inclui processos que o Flamengo, por meio de seu jurídico, considera como perdas “prováveis”. Dívidas para as quais não há solução além do pagamento. Elas entram no popular “devo, não nego, pago quando puder”.
O cerne do desentendimento está nas dívidas não provisionadas, cujas perdas são classificadas como “possíveis”. Em português claro, significa que o jurídico acredita que convencerá juízes e desembargadores de que a dívida tem sido cobrada injustamente pelo credor. Influenciado por esse entendimento dos advogados do clube, o departamento financeiro não separa uma grana – a tal da provisão – para pagar esses débitos.
Até pouquíssimo tempo atrás, dívidas não provisionadas não eram detalhadas pelos clubes em seus balanços financeiros. Hoje, a maioria dos dirigentes ainda não as discrimina. Mas o Flamengo adotou essa prática há alguns anos. Em seu balanço financeiro referente a 2017, aparecem R$ 343 milhões em ações de naturezas trabalhista, cível e tributária para os quais o entendimento é de que os processos serão vencidos pelo clube na Justiça.
No início de julho, Ancelmo Gois, no GLOBO, revelou que o Flamengo sofreu revés na ação que envolve o pagamento de cerca de R$ 100 milhões à prefeitura do Rio de Janeiro. Precisamente, eram devidos R$ 116 milhões ao término da temporada passada, conforme descreve o balanço financeiro rubro-negro, em ISS não pagos desde julho de 2009. O clube contesta a dívida na Justiça, recebeu uma decisão desfavorável e continuará a questioná-la até seu último recurso. É possível que precise pagar os R$ 116 milhões, como também é possível que não pague nada. Tudo dependerá das próximas decisões.
É preciso cuidado para que números não desinformem. A soma de dívidas provisionadas e não provisionadas é incorreta, principalmente se o propósito do cálculo for a comparação com outros clubes (que nem sempre revelam valores não provisionados) e com o próprio histórico financeiro flamenguista. Existe, sim, o risco de o Flamengo precisar separar mais de R$ 100 milhões em algum momento para arcar com o ISS cobrado pelo município. Isso acontecerá se os recursos se esgotarem e a Justiça condenar o Flamengo. O torcedor deve acompanhar o desenrolar do caso na Justiça. Mas sem pânico. Pelo menos por enquanto.