Existem coincidências que deixam uma pulga atrás na orelha de qualquer um. Era um 2 de abril de 2005 quando o Vaticano anunciou que o Papa João Paulo II nos deixava. Padroeiro do Fluminense, foi homenageado com uma canção que embalou as arquibancadas por décadas — e virou quase um hino. Nos momentos de glória ou de desespero, ele era acionado. Quis o destino que a santidade e o futebol se encontrassem novamente. Exatamente 17 anos depois, no aniversário da morte, o tricolor conquistou o 32º título do Campeonato Carioca ao empatar com o Flamengo em 1 a 1 ontem, no Maracanã. É difícil imaginar que não houve uma ajuda divina. Ou pelo menos que vossa santidade está sorrindo no céu.

João Paulo II foi apenas um dos mais de 30 mil tricolores presentes no Maracanã, ou dos milhões espalhados pelo mundo, que tiraram um enorme peso das costas — o de de 10 anos sem conquistas estaduais. O título é simbólico para o Fluminense, que coroa a sua reconstrução com uma conquista tão doce quanto os gols de Germán Cano, decisivo mais uma vez. Também ajudou a ampliar o bom retrospecto diante do maior rival: nos últimos nove jogos, são seis vitórias, dois empates e uma derrota.

Um título que coroa um estilo de jogo surpreendente para quem tinha a vantagem de 2 a 0 no placar após vencer o jogo de ida. Quem esperava um tricolor extremamente defensivo e segurando o resultado, se deu conta que a trinca formada por André, Ganso e Arias daria muito trabalho para a defesa rubro-negra. Tanto que mereceu sair na frente no placar, mas o gol marcado por Gabigol, na verdade, foi quase uma punição por um primeiro tempo tão bom.

Felizmente, a Justiça foi feita ainda antes do intervalo quando o trio citado anteriormente participou da construção do gol de empate tricolor. De André para Ganso, de Ganso para Arias, de Arias para Germán Cano fazer explodir o Maracanã. No tento tricolor, foi possível perceber alguns sintomas de um Flamengo que pouco lembra o dos anos anteriores — abatido, com pouca inspiração, vendo as suas estrelas passarem longe do rendimento técnico dos melhores dias.

A conquista poderia ser ainda mais tranquila para o tricolor, já que teve um pênalti a favor na metade do segundo tempo. Filipe Luís colocou a mão na bola, mas a penalidade cobrada por Germán Cano parou no goleiro Hugo. Restou ao Flamengo colocar todas as suas armas em campo — Pedro, Everton Ribeiro foram chamados para somar ao quarteto já conhecido. Não adiantou.

No fim, veio a festa. E também a certeza: Onde quer que esteja, João de Deus está sorrindo. E o Fluminense pode comemorar o título do Campeonato Carioca.