Flamengo, exclusivo: vice de finanças fala sobre disputa com Globo, novo patrocínio e a volta do …

É noite no Brasil enquanto o sol ainda invade as janelas da casa de Rodrigo Tostes nos Estados Unidos. Camisa do Flamengo trajada, ele se ajusta em frente à câmera para iniciar a entrevista. De novo, um momento de crise. Mas bem diferente daquele ultrapassado em 2013, quando a primeira gestão de Eduardo Bandeira de Mello acabara de se iniciar para dar o pontapé na metamorfose do clube.

Naquela ocasião, Tostes era o vice-presidente de finanças de um clube que, de acordo com auditoria recém-apresentada, tinha R$ 750 milhões de dívidas. Saiu em 2015, pouco antes da eleição, para apoiar o núcleo duro da Chapa Azul, com quem novamente divide a gestão atualmente.

Em sete anos o Flamengo conquistou a fama de bom pagador. É vitorioso e faz contratações impactantes. Só Gabigol junto à Inter de Milão custou 16,5 milhões de euros. A pandemia, no entanto, se apresentou como desafio justamente nesse campo. Com três meses de paralisações, o clube se viu obrigado a entrar em um acordo de redução salarial com o elenco milionário e acabou por demitir 62 funcionários.

De volta à gestão rubro-negra a convite do presidente Rodolfo Landim desde fevereiro, quando substituiu Wallim Vasconcellos na pasta, Rodrigo Tostes atendeu a ESPN para um papo sobre as finanças deste Flamengo em meio ao furacão da covid-19. E foi direto sobre a necessidade de fazer a roda da bola voltar a girar. Leia abaixo na íntegra.

Queria já começar pela fervura que existe no futebol brasileiro. Por que o Flamengo apoia a MP 984 que dá aos mandantes os direitos de transmissão?

Bom, acho que essa pergunta é a pergunta mais quente do momento então é bom a gente começar o papo por ela. Acho que tem faltado um esclarecimento aí para todo mundo dos motivos do Flamengo e acho que qualquer outro clube deveria estar bem motivado e animado em relação à MP. Acho que são dois, na verdade.

Primeiro acho que a questão de saber quanto vale o seu jogo, quanto vale o seu direito é uma necessidade que os clubes deveriam ter e essa MP efetivamente traz esse benefício. Ou seja, hoje os clubes vendem suas partidas, cedem os seus direitos sem efetivamente saberem quanto eles valem. Como se alguém tivesse indo hoje comprar sua casa e você precisando vender a casa aceita basicamente o que aquele único ofertante passa para você aquele valor.

Então assim, a discussão entre valor e preço é importante. Na verdade, a gente acha que as partidas de futebol dependendo do seu conteúdo valem muito mais do que o preço que está sendo ofertado. Mas essa MP necessariamente vai trazer a possibilidade de os clubes negociarem individualmente esse direito e cobrar efetivamente por ele.

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Então acho que esse é o primeiro ponto. Essa discussão não tem sido trazida meio à tona e acho que é importante a gente esclarecer esse problema do monopólio de uma empresa só ofertando e a gente não saber efetivamente quanto vale.

Acho que o segundo tema com relação a essa MP, o que acho que ela é tão importante é que acho que ela vai mostrar para tudo mundo que independente do tamanho da torcida de A, B ou C – e essa discussão tem sido muito usada o Flamengo como referência, que essa MP é boa somente para o Flamengo ou para os times que têm maior torcida. Acho que isso é uma total incorreção, vamos dizer assim.

Essa MP ela vai trazer, sim, uma possibilidade daqueles clubes que têm o melhor produto, que trabalham melhor o seu produto poderem cobrar mais e tirarem um preço melhor desse seu produto. Uso assim muito como exemplo aqui os Estados Unidos. Talvez o time que hoje consiga negociar melhor com a liga e indiretamente outros patrocinadores é o time do Golden State Warrios, que sem sombra de dúvidas é das menores torcidas dos Estados Unidos.

Mas ele tem um grande produto. Ele trabalha bem o produto dele. As pessoas que gostam de basquete assistem o Golden State não porque são Golden State, mas porque o produto é muito bom. O time é sempre muito competitivo, com exceção desse ano que foi muito mal e logicamente isso impactou na receita de televisão e nas receitas de direitos do clube.

Então existe uma segunda correlação que é fundamental se fazer, que essa MP vai fazer os clubes saírem de uma situação mais de preguiça em mais proativa. De trabalharem os seus produtos e trabalharem o futebol como entretenimento para poderem vender. Independente se é para torcida A, B ou C. A gente gosta de Campeonato Inglês, a gente gosta de Campeonato Italiano, a gente gosta de outros campeonatos e a gente não torce para esses times e a gente consome esses produtos.

Então assim, essa MP vai ser muito boa para os times que não são preguiçosos, que vão focar no seu produto, nos seus atletas e tentar ter um bom time. Mas aqueles efetivamente que estiverem se contentando com pouco e que não trazem atratividade para o seu produto, provavelmente não vão ter um bom preço na hora da negociação. Então acho que essas duas discussões não foram feitas até agora e é bem saudável a gente discutir isso.

A gente falava também sobre a conta de padaria. Muita gente perguntando por que o Flamengo tem 38 jogos na mão e vai ter 19? Como vai se sair bem nesse sentido? Gostaria que você explicasse esse sentido.

Essa conta está absolutamente errada. A conta não pode ser feita pela quantidade de jogos, né? Tem o ponto que acabei de falar antes, do tamanho do bolo. É mais ou menos aquela história do cara que liga para a pizzaria, Pedro, e pergunta: “Ô, fulano, quantas fatias tem a pizza?”. E o cara responde “quantas o senhor quiser”.

Porque a preocupação que se deveria ter não é com a quantidade de jogos, mas com o tamanho do bolo. Quanto aquilo representa dentro do tamanho do bolo. Hoje efetivamente os clubes não sabem qual é o tamanho daquele bolo. E efetivamente você dividir isso, mesmo que você venha saber num determinado momento, pela quantidade de jogos é um grande equívoco.

Porque na verdade os jogos têm pesos e preços diferentes. Ou seja, se você tiver fazendo o encontro de dois times que estão disputando, bons times que estão trazendo um bom espetáculo, aquele encontro vai ter muito mais atratividade para o torcedor do que qualquer outro.

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A conta não é necessariamente uma conta simples como se tem feito. ‘Ah, o Flamengo tem x por cento, então ele vai ter 39 jogos, então cada jogo do Flamengo…”. Essa conta é uma conta, eu diria, burra. Essa não é a conta. A conta tem de ser, sim, entender qual é o tamanho do negócio futebol no Brasil, que hoje em dia ninguém sabe, e a segunda conta se trabalhar o entretenimento, se trabalhar o conteúdo para se poder cobrar mais de patrocinadores, de todos em relação a isso.

Você está repetindo que não sabem o tamanho desse bolo ainda. Mas há algum tipo de projeção de percentual que o Flamengo ou os clubes poderiam ganhar a mais em relação ao panorama atual?

É difícil porque não se sabe. A gente está escravizado nesse modelo há muito tempo em função exatamente do que comentei com você da preguiça da falta de proatividade dos clubes em buscar esse caminho, de buscar alternativas. Agora com a tecnologia acho que tudo mudou, os clubes podem buscar alternativas de apresentar os seus jogos. Mas acredito que os outros não saibam, mas é extremamente importante você saber o quanto vale o seu produto, o quanto vale a sua casa para negociar a venda da sua casa ou qualquer outra coisa. Hoje efetivamente não se sabe.

Flamengo acredita que esse mercado vai ficar mais efervescente mesmo com a crise. Com a nova MP vai facilitar. É mais ou menos esse o raciocínio?

É mais ou menos esse o raciocínio. Você pode através de plataformas de tecnologia chegar em muito mais lugares e levar isso inclusive para fora do país, na questão que a gente sempre discutiu da internacionalização do futebol brasileiro. Hoje eu assisto aqui nos Estados Unidos o campeonato da Coreia e não consigo assistir o Campeonato Brasileiro.

Então assim, você vê como a gente está atrasado do ponto de vista de produto. Mas pode ser algo não só sujeito ao local, ou seja, nós temos que pensar maior do que o continente, maior do que a América Latina. O Campeonato Brasileiro pode ser um produto exportado para todo mundo. As pessoas gostam, têm prazer em ver um futebol brasileiro.

O quanto o Flamengo enxerga ser importante o passo com essa MP? Muito se fala de o Flamengo ser o primeiro grande clube fora da Europa, competir de igual para igual com os europeus. O quanto isso é importante na estratégia de vocês?

É fundamental. A gente tem um contrato que a gente tem de cumprir até 2024, a gente vai cumprir esse contrato. Mas a partir do momento que a gente tiver direito de negociar os campeonatos que não estão negociados essa é uma fonte de receita que pode ser a principal para a gente poder dar o próximo passo. A gente andou muito de 2013 para cá, foram várias etapas que foram sendo cumpridas do ponto de vista de aumento de receitas e de controle de despesas e governança. Isso tudo já foi feito. E agora a gente tem de buscar novos caminhos.

Então assim… Porque é para esse lado que o mundo está indo e a gente precisa acordar. Não existe nenhum outro lugar do mundo em que os direitos de televisão são divididos entre os dois times. Então acho que esse é um caminho natural que os clubes deveriam estar todos engajados aí em buscar para saber o quanto vale seu produto e poderem trabalhar juntos para melhorar esse produto e aumentar a fatia do bolo.

Falar com o vice de finanças do Flamengo e não falar sobre esse período difícil do mundo. Queria que você explicasse um pouquinho a situação do Flamengo. A gente viu notícias de que poderia ter dificuldades, o clube teve de demitir funcionários, readequar com os jogadores. Queria que você explicasse um pouco melhor qual foi a necessidade do Flamengo e qual vai ser o próximo passo?

Quando o problema da pandemia apontou no horizonte a gente agiu muito rápido. Com calma, mas muito rápido. A gente estabeleceu um comitê de crise que se encontrava diariamente. Traçamos ações de curto e médio prazo. Longo prazo logicamente a gente não sabia o que iria acontecer.

Começamos a fazer um acompanhamento, principalmente da situação do caixa do clube, que é, vamos dizer assim, o imperador nesse momento. Ou seja, a coisa mais importante naquele momento. Conseguimos reduzir despesas não emergenciais, conseguimos reduzir despesas através de negociações com você falou. Fizemos negociações com funcionários, com os atletas. Tivemos um momento em que a gente tinha praticamente 12, 13 cenários.

Hoje posso dizer que existe uma luz no fim do túnel, sim. Naquele momento era um trem, mas hoje posso garantir para a torcida do Flamengo que não é um trem. A gente já tem um horizonte, a gente já sabe onde está pisando. É uma situação muito mais clara. Mas é uma situação como todos os países, empresas e times estão passando. É uma situação longe de confortável. A gente está tendo que agir com bastante ainda… sendo ainda bastante dirigente, vamos dizer assim.

A gente não tem mais essa reunião diária, mas tem reuniões duas vezes por semana de acompanhar todas as questões das receitas e das despesas. Tem agido de maneira emergencial onde a gente precisa. Com relação a patrocinadores que foram atrasados a gente agiu muito rápido. Com negociações e renegociações a gente também agiu muito rápido. Mas o cenário que vem pela frente ainda tem um quê de incerteza que requer da gente muita atenção.

O que posso passar para a torcida do Flamengo é que a gente está agindo. A situação ainda está longe de ser tranquila, mas ela está muito melhor do que ela estava quando a gente começou. O patrocínio do BRB recente foi muito bem-vindo. A gente agradece muito aí toda negociação desse patrocinador novo que chegou, vai ajudar bastante. A gente vai trabalhar muito para aumentar ainda mais essa receita.

Com a base do Flamengo, a gente acredita que pode criar, sim, novas alternativas de receita. Mas o que eu posso tranquilizar todo mundo é que a situação hoje é bem mais segura. E a gente está trabalhando duro para chegar no final do ano com os números equilibrados. Logicamente não vão ser tão bons como a gente imaginava, mas vamos trabalhar duro para melhorar a cada dia.

Em relação aos jogadores houve no início de maio um acordo de dois meses, com redução de 25% e os direitos de imagem mais para frente. Acredita que vai ter de ocorrer um novo tipo de conversa, qual seria o tom?

Ela não é certa, mas ela é provável porque a situação ainda é insegura. Incerta do ponto de vista de receita. Então a gente provavelmente vai sentar, conversar e mostrar números de maneira muito clara e bem objetiva. Eles foram muito parceiros, muito responsáveis do ponto vista de entender a situação delicada que o clube estava passando.

Isso foi apresentado com muita clareza, com muita transparência e provavelmente a gente vai ter de conversar novamente e ainda estamos aguardando para ter um pouco mais de informação para sentar à mesa com os jogadores e com os demais também, com as demais negociações que o Flamengo precisa fazer. Não é exclusivamente com jogadores. A gente vai ter de fazer negociações com fornecedores até a gente ter essa situação resolvida. Não é um aspecto exclusivamente de negociação dos atletas, né.

Houve muitas críticas em cima do Flamengo sobre acelerar muito para voltar, o clube não se importar com vidas, não ligar para o lado humano da pandemia, com pessoas morrendo. Queria que você explicasse do ponto de vista financeiro o impacto financeiro num clube que vem cumprindo seus compromissos.

Acho que primeiro tem um assunto antes desse aí. Logicamente que o Flamengo se importa com vidas e logicamente que o Flamengo não tomou e nem tomaria uma ação que colocaria em risco ninguém. Nem seus atletas, nem seus funcionários. Todas ações foram tomadas de acordo com os protocolos e as legislações que foram publicadas.

Então o Flamengo não descumpriu em nenhum momento nenhuma lei. O Flamengo foi sempre cumpridor daquilo que foi apresentado a ele como solução para se ter essa segurança. A gente mostrou isso em vários casos.

Segundo ponto é, antes de entrar na questão financeira, para mim é muito claro o seguinte: nosso negócio é o futebol. Acho que a gente não tem de ter nenhum receio de falar que a gente quer voltar o quantos antes. O nosso negócio é esse. O nosso negócio é o futebol. Nossos patrocinadores pressionam a gente que querem expor a sua marca. A gente precisa pagar os salários dos jogadores.

Não existe primeiro uma preocupação com a questão financeira. Existe uma preocupação com o negócio futebol. O que me deixa muito desconfortável é assim… Se eu tivesse uma loja de café eu queria voltar o quanto antes. Não a qualquer custo, mas o quanto antes. O Flamengo não quer voltar a qualquer custo. O Flamengo foi o primeiro a discutir e apresentar soluções e buscar os caminhos para voltar porque o negócio do Flamengo é o futebol.

E como o negócio do Flamengo é futebol as questões financeiras dependem desse negócio. A gente não tem que ter meias palavras e dizer isso de uma forma ‘Não, veja bem, porque o Flamengo, a gente está…’. Não. A gente quer voltar, lógico que a gente quer voltar. Os jogadores querem voltar se for dentro de determinadas condições como voltaram na Europa e voltaram em outros lugares.

Então assim, a gente quer voltar não pela questão financeira, a gente quer voltar porque o nosso negócio é futebol. E a gente precisa voltar a jogar como todo mundo precisa voltar a trabalhar dentro das condições necessárias. Esse que é o grande ponto que vale alertar.

Flamengo teve de conversar com outros clubes como na negociação do Léo Pereira. Pelo que a gente sabe ficou tudo resolvido. Mas isso quer dizer que o Flamengo não pode fazer nenhum tipo de contratação até o fim do ano?

Eu acho que no momento não faz parte isso do plano. Contratar ninguém nesse momento. Ou seja, estamos focados em cumprir nossos compromissos, em pagar os atletas. Cumprir os compromissos que a gente tem com os atletas, com os fornecedores, com todo mundo. Então assim, nesse momento atual eu não vejo nenhuma razão para abrir uma discussão de novas contratações.

A gente tem de cumprir os compromissos e o Flamengo é um clube que cumpre com os seus compromissos e por isso que ele quer voltar. Porque ele entende que existe toda preocupação com vidas, com a saúde, a gente vai fazer, mas a gente precisa voltar, precisa cumprir nossos compromissos. Então nesse momento falar de contratações a gente nem tem condições nem é o momento ideal de vir toda essa discussão.

O Flamengo voltou no Campeonato Carioca antes dos outros estaduais. O clube pode encerrar agora o Estadual e poderia ficar um mês espaçado entre o fim do Carioca e o início do Brasileiro. Qual a diferença de, por exemplo, ter ficado mais um mês esperando agora ou voltar a jogar, fazer a roda girar novamente e aí ter de parar mais um mês? Na questão do fluxo financeiro do clube.

Isso é uma opinião particular minha. Não é uma opinião do Flamengo, deixar muito claro. A minha opinião é que a roda precisa começar a girar para os demais começarem a girar. Então assim, acho que a gente ter dado esse primeiro passo foi importantíssimo para a gente ter algumas decisões agora. Então assim, todos os clubes que se engajaram junto com o Flamengo nessa volta – e não foi só o Flamengo, vários outros também queriam voltar, também estavam fazendo força para voltar – acho que são responsáveis por a gente ter essa clareza em ter essa data agora de agosto.

Se estivesse todo mundo quieto, sentado provavelmente isso não teria acontecido. Mas essa é uma opinião particular do Rodrigo. Não é uma posição do Flamengo. Acho que o Flamengo foi muito bem em puxar essa roda, em fazer as coisas acontecerem. Por outro lado, a gente não teria essa visão clara que você tem hoje. Essa é a minha opinião particular, mais uma vez.

O Flamengo quando teve de pegar o empréstimo de R$ 40 milhões e isso para muita gente, até torcedor rival abriu sorriso achando que o clube estava em dificuldade de novo. Queria que você explicasse um pouco essa situação para quem é leigo.

Tentando explicar isso… Banco só empresta para aquele que não precisa, entendeu? Então essa dúvida aí, essa felicidade de alguns que ficaram aí…. O Flamengo hoje tem uma capacidade de pagamento enorme com ativos, patrimônio líquido. A gente buscou esses R$ 40 milhões porque a gente eventualmente viu que alguns fornecedores, alguns devedores do Flamengo poderiam atrasar, poderiam criar algum problema. E realmente aconteceu.

Então esse dinheiro foi resgatado nessa para sanar um momento específico, um problema que a gente teve específico no tempo. Por isso que a gente tem essa conta pré-aprovada no banco, para exatamente esse momento. Então o Flamengo, como eu disse, não está totalmente fora da situação que acontece no mundo. O mundo está passando por um problema e o Flamengo também está passando.

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Mas para aqueles que ficaram com a expectativa de que o Flamengo agora vai afundar em função desse valor, é muito pelo contrário. Acredito que a gente até aí o final do ano vai estar com os pontos resolvidos e talvez aí até mais enxuto e mais leve para os próximos caminhos, para a próxima jornada do ano que vem. Então às vezes é bom ter esse tipo de problema para você dar uma enxugada e fazer corte onde precisa fazer. E

A gente aproveitou também para dar alguns passos de assuntos que estavam parados há algum tempo, começamos a tomar decisões mais rápidas para sanar alguns custos desnecessários que a gente estava tendo. E focar efetivamente tempo e trabalho naquilo que importa. Então para aqueles que ficaram felizes, felizmente não foi o caso.

No fim de março o clube divulgou o relatório financeiro de 2019, que apontou a questão que com três meses… Era um teste de impacto, certo?

Teste de estresse. Aquilo é uma expressão que é usada de forma comum nesses relatórios. Logicamente quando a gente colocou aquilo ali… Teste de estresse não significa que todo mundo vai parar de te pagar e que todo mundo vai alegar força maior e que o campeonato não vai acontecer. Isso não é teste de estresse.

Zerar suas receitas pelos meses seguintes e o mundo continua andando. Não. Teste de estresse traça algumas premissas. Tanto é que a gente sobreviveu os três meses. Estamos aqui fortes, saudáveis como clube. Tivemos de renegociar, sim. Mas acho que aquilo foi absolutamente correto de ter sido escrito e a gente está aqui depois de três meses forte e saudável e olhando para frente.

Não tivemos de vender nenhum atleta, não estamos com default de outros jogadores como outros clubes estão. Então assim, aquela frase ali não foi equivocada. Está certo o que foi escrito ali. E a gente contornou dentro de um estresse danado, tem de ser sincero. A gente passou dias bem difíceis aí, negociando e trabalhando duro. Mas estamos aqui firmes e fortes para ganhar tudo mais uma vez nesse ano.

Flamengo fez uma contratação muito grande nesse ano como a do Gabigol. Muito impactante um clube brasileiro chegar no futebol europeu e fazer esse tipo de contratação. Essa pandemia vai impedir por algum tempo o Flamengo sonhar com voos dessa maneira, fazer contratações graúdas de 16 milhões de euros, 17 milhões de euros?

Eu acho que não. Tudo vai depender de como a gente vai terminar o ano. Dentro desse ano não dá para se falar nada disso. Se por acaso o Flamengo teve baques aqui, os outros clubes lá também tiveram. Então acho que houve uma redução do valor do negócio como um todo, em todos os lugares.

Acho que com as ações que a gente está tomando, não vou dizer que a gente sai mais forte, mas a gente sai tão protegido quanto a gente estava antes. Na mesma situação que a gente estava antes. Neste ano acho que não. Neste ano, acho que está fora de questão. Mas acho que ano que vem, se a gente tiver êxito como a gente teve êxito ano passado. Isso traz mais prêmios, mais patrocinador, traz esse espiral para cima de receita. Então acho que a gente vai estar tão forte como estava no início do ano passado.

As contratações no exterior envolvem muito o câmbio. O Flamengo tem muito em euro para pagar, mas também a receber. Como está essa balança?

A gente tem receitas a receber que fazem o famoso hedge natural. A compensação natural que balanceia isso até determinado ponto. Mas o Flamengo é um clube formador e como todo clube da América Latina vendedor para o exterior. Gerar receitas em euro sempre é importante. O futebol sabe disso, a gente conversa muito sobre isso.

Ou seja, como aproveitar as oportunidades para exatamente ter oportunidades também, como você falou, fazer contratações em euros. A gente sabe que atleta de alto rendimento hoje as contratações basicamente são feitas em euro. A gente está em alerta que tem essa receita para compensar até determinado ponto, mas precisa continuar gerando receita em euro recorrente como a gente vem fazendo nos últimos três anos.

Não acredito que a gente vai ter problema de descasamento em médio prazo. Acho que a situação está absolutamente sob controle. Não tira meu sono essa discussão do euro porque o Flamengo é um clube formador. Acho que a gente vai continuar vendendo atletas em euro.

Uma questão grave para os clubes nessa pandemia é a ausência de torcida. A longo prazo parece ser meio irreal o cenário com estádios cheios. Flamengo projetava crescimento de 25% neste ano em sócio-torcedor e bilheteria, para R$ 204 milhões. Qual vai ser o impacto dessa questão e como vocês podem ajustar?

Basicamente assim: esses são os grandes impactos que não só o Flamengo como qualquer outro clube no mundo vai ter nesse ano. E talvez no início do ano que vem conforme as coisas forem caminhar. Não dá para pensar em reverter. Essa é uma situação que está dada, não tem como tentar achar soluções para isso.

A gente está fazendo cálculos, sim. A gente logicamente sabe que vai perder nessa linha de receita de torcida. A gente vai tentar achar outras formas de compensar, mas é muito difícil que a gente consiga compensar todo esse valor. É por esse motivo que a gente vai precisar sentar na mesa com todo mundo novamente, renegociar. Hoje a gente tem mais clareza.

Acho que essa pergunta é muito porque esse é basicamente a linha onde a gente vai perder mais. Mas estamos trabalhando duro pra caramba para compensar em outras linhas. No caso, por exemplo, o patrocínio do BRB compensa uma parte. A gente tinha uma projeção menor de patrocínio master do que a gente projetava com o BRB.

Vai ser um trabalho diário, Pedro. A gente vai ter que ir indo trabalhar formiguinha. Não vai ser só na linha da receita que a gente vai conseguir balancear, buscar novas receitas para compensar a perda de bilheteria. Não vai ser só aí. A gente vai ter de olhar para dentro de casa, fazer um sacrifício, fazer um esforço para cortar também na carne, naquilo que for necessário, no que for possível. Então assim, o que a torcida do Flamengo pode ter certeza é que a gente está vigilante.

Não existe preocupação de o Flamengo entrar em falta de pagamento, em default, em afundar o clube. Podem ficar absolutamente tranquilos com relação a isso porque a gente já tirou o Flamengo de situações muito mais complicada do que está hoje com sucesso. Então essa preocupação a torcida não precisa ter. A gente vai resolver a situação. Vai ser um ano difícil, mas a gente vai resolver essa situação. O que a gente espera é ganhar tudo. E se a gente ganhar tudo a gente compensa grande parte dessa perda de bilheteria aí que você mencionou.

Fonte: https://www.espn.com.br/futebol/artigo/_/id/7103444/flamengo-exclusivo-vice-financas-fala-sobre-disputa-com-globo-novo-patrocinio-a-volta-futebol

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