A queda de braço a respeito dos passos do futebol brasileiro diante da pandemia trouxe uma divisão entre os clubes. De um lado, coloca-se o Flamengo. Do outro, os demais da Série A, em parceria com a CBF. Na discussão da aplicação do protocolo, foram pelo menos duas sugestões públicas de paralisação do Brasileirão.

Mais do que isso: o Atlético-MG indicou que o Flamengo seja punido desportivamente diante da possibilidade de se beneficiar de decisões da Justiça comum.

No domingo, o rubro-negro só entrou em campo contra o Palmeiras porque o Tribunal Superior do Trabalho (TST) acatou recurso da CBF e derrubou decisões do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-RJ) que suspendiam o jogo. Mas a rusga antecede a guerra de liminares.

Nos bastidores, os clubes contestam a postura da diretoria do Fla, considerando que ela ignora o interesse coletivo. O que os presidentes de Corinthians, Palmeiras e Atlético-MG disseram internamente na reunião da qual o Flamengo não participou, no último sábado, eles deixaram claro ontem.

“O maior problema do futebol é quando um clube só pensa nele e em mais nada. Suspender um jogo é suspender o protocolo que todos toparam. Melhor paralisar o campeonato inteiro então”, disparou o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, no Twitter.

Ele se juntou ao presidente do Palmeiras, Mauricio Galiotte, na defesa da hipótese de interrupção da Série A por causa do risco de suspensão da partida.

Desde a reunião sobre a volta do público na última quinta-feira, a CBF e os demais clubes da Série A começaram a formar um grande bloco de oposição ao Flamengo. Também há um incômodo com o papel do presidente da Ferj, Rubens Lopes, que dá e recebe apoio do Flamengo. Rubinho discutiu com o presidente da CBF, Rogério Caboclo.

O Flamengo não foi autor das ações na Justiça, e, sim, os Sindicatos dos Empregados dos Clubes (Sindiclubes) e dos Atletas Profissionais do Rio (Saferj). Mas o imbróglio jurídico que quase suspendeu o jogo aumentou a tensão e respingou no clube.

— Os regulamentos são claros, com previsão de penas gravíssimas: os clubes não podem pleitear nem se beneficiar de decisões da “Justiça Comum” que digam respeito à organização das competições. Por isso, é bom lembrar: os clubes estão unidos e atentos — disse Sette Câmara, presidente do Atlético-MG.

O cenário de isolamento do Fla contrasta com o discurso de Rodolfo Landim na campanha presidencial. Segundo ele, o clube tinha imagem de “mesquinho”. O quadro contrasta com a proposta de mobilização recente em torno da MP do Mandante, assinada pelo presidente Bolsonaro após almoço com o próprio Landim.

Ao menos até agora, o Flamengo não deve tirar o pé na discussão sobre a volta do público. Ferj e prefeitura do Rio seguirão debates esta semana, na quinta-feira, pra deixar o protocolo pronto para quando o retorno do público for autorizado pela CBF. O clube, por sua vez, acionou a Secretaria Nacional do Futebol para pressionar a entidade, que já tinha o aval do Ministério da Saúde para a volta parcial da torcida.