Dezoito pessoas, entre jogadores titulares, reservas e membros da comissão técnica da Portuguesa, protagonizaram um exemplo do que não fazer para se evitar a propagação do novo coronavírus. Aos 12 minutos do segundo tempo, se amontoaram para abraçar Maicon Douglas. Ele abriu o placar na partida sobre o Flamengo, conseguiu vazar o bicho-papão do futebol brasileiro e buscou companhia para comemorar. No jogo que revela a pouca prudência dos dirigentes cariocas, seria covardia cobrar bom senso logo dele, lateral-esquerdo com nome de ator de Hollywood que talvez tenha alcançado o maior feito de sua carreira.

Uma pena para Maicon Douglas que isso tenha acontecido diante de um Maracanã vazio, fechado para receber torcida por causa da pandemia, mas aberto para jogadores, comissão técnica, dirigentes e todos mais que precisaram trabalhar, como se a imunidade deles fosse maior do que a dos rubro-negros que não puderam ocupar as arquibancadas e ver pessoalmente a virada do Flamengo por 2 a 1, com gols de Marcão (contra) e Arrascaeta, ambos nos últimos seis minutos de partida.

Seria injusto pedir para Maicon Douglas correr para longe de todos, quando durante 90 minutos esteve a um palmo de distância dos jogadores do Flamengo que precisou marcar. O principal deles, o lateral-direito Rafinha, que no dia anterior realizou teste para Covid-19, entre outros motivos, porque um dirigente rubro-negro que esteve com o elenco na viagem de estreia na Libertadores teve confirmada a doença na última sexta-feira.

Rafinha, boa praça, não mudou o jeito de ser ao fim do primeiro tempo. Depois de conversar com o trio de arbitragem, caminhou abraçado e de bate-papo com o veterano atacante Adriano, da Portuguesa. O mesmo que já havia participado da roda dos jogadores e da foto posada com os companheiros antes de a partida começar.

Tudo em casa porque os jogadores do Flamengo fizeram o mesmo, ainda que parecessem não terem a mesma disposição para tanto. Entraram em campo diante do silêncio absoluto e tiveram de ser chamados pelos fotógrafos para a imagem protocolar. Reuniram-se no meio de campo para em seguida irem para o jogo. Contrariaram todas as recomendações dos infectologistas, que pedem o menor contato físico possível e distância de cerca de 1,5m de uma pessoa para outra, para evitarem o contágio pelo ar. Mas pelo menos respeitaram a diferença técnica imensurável em relação ao adversário para conseguir a virada.

A pandemia exige uma nova rotina que o Flamengo aos poucos implementou na partida de ontem. Os cuidados com a higiene das mãos têm sido reforçado e alguns funcionários, por conta própria, foram para o Maracanã com álcool em gel. A quantidade de pessoas que o departamento de futebol levou para a partida foi o mesmo de sempre, mas outros setores, como comunicação e marketing, chegou ao estádio com número reduzido, medida preventiva e também motivada pela falta de torcida no estádio.

Quem foi obrigado a trabalhar, fez como pode. Jornalistas levaram álcool em gel e um deles foi até com máscara para tentar se proteger. As cabines de rádio estiveram com as portas abertas, apesar do calor, para manter o ar circulando. A Band News proibiu o uso da espuma que cobre o microfone e melhora o som da voz de narradores, comentaristas e trepidantes. O acessório é um acúmulo de perdigoto, transmissor em potencial do novo coronavírus. Amanhã, isso pode acabar. A Federação de Futebol do Rio terá encontro com os clubes para decidir se seguirão jogando ou não.