Flamengo x Santos: Melhor mandante e melhor visitante disputam título do 1º turno

O que Jorge Jesus e Sampaoli fazem de diferente?

Dirigidos pelo português Jorge Jesus e pelo argentino Jorge Sampaoli, Flamengo e Santos se enfrentam neste sábado no Maracanã colecionando marcas expressivas. Em campo estará em disputa o título simbólico do primeiro turno. O Rubro-Negro tem dois pontos de vantagem e se empatar confirmará a melhor campanha. Para o Peixe retomar a liderança, tem de vencer o jogaço. Em 12 das 16 edições do Brasileirão por pontos corridos, o campeão do primeiro turno confirmou a conquista do título ao final da temporada, mas neste ano a disputa está acirrada, com o Palmeiras na espreita.

Os campeões do primeiro turno e o resultado final nos pontos corridos

Ano1º turnoCampeão
2003CruzeiroCruzeiro
2004SantosSantos
2005CorinthiansCorinthians
2006São PauloSão Paulo
2007São PauloSão Paulo
2008GrêmioSão Paulo
2009InternacionalFlamengo
2010FluminenseFluminense
2011CorinthiansCorinthians
2012Atlético-MGFluminense
2013CruzeiroCruzeiro
2014CruzeiroCruzeiro
2015CorinthiansCorinthians
2016PalmeirasPalmeiras
2017CorinthiansCorinthians
2018São PauloPalmeiras

Nessa disputa, o jogo deste fim de semana é ainda mais importante para o Santos. De 2006 para cá, quando o campeonato passou a ser disputado por 20 equipes, dos 13 campeonatos, em dez o campeão foi a equipe com o melhor desempenho visitante. O Palmeiras, no ano passado, foi o melhor sem o mando de campo e também com o mando.

O Santos é o melhor visitante do Brasileirão 2019, com 59% de aproveitamento dos pontos disputados. Foram cinco vitórias, um empate e três derrotas fora de casa. É apenas a nona equipe que mais fez gols como visitante (marcou oito vezes, média 0,89) e a sétima defesa (10 gols sofridos, média 1,11). O Palmeiras é o segundo melhor visitante, com 53% de aproveitamento, e o Flamengo o quarto, com 50% (quatro vitórias, três empates e três derrotas).

O Rubro-Negro compensa como melhor mandante, com 100% de aproveitamento: oito vitórias, 25 gols marcados (média 3,13 – melhor ataque mandante) e oito gols sofridos (média 1,00 – nona defesa mandante). Mas antes da chegada de Jorge Jesus, evidentemente, o Flamengo já era 100% mandante com quatro vitórias. Com o técnico português, apenas manteve esse padrão, o que não é pouco, muito pelo contrário.

Foi no desempenho como visitante que Jesus levou o Flamengo à sua grande virada rumo à liderança do Brasileirão. Quando o Campeonato Brasileiro parou para a Copa América passar, o aproveitamento do Flamengo era de 33% (uma vitória, dois empates e duas derrotas), e com a chegada do treinador português esse desempenho dobrou para 67% (três vitórias, um empate e uma derrota) e se tornou e melhor visitante do pós-Copa América enquanto era apenas o sexto melhor desempenho fora de casa antes da parada. Esse crescimento fora de casa foi fundamental na arrancada e levou o torcedor flamenguista a sonhar alto, já que em 2018 os jogos sem o mando de campo foram um pesadelo, inclusive na Copa Libertadores.

Com a chegada de Jorge Jesus, o Flamengo melhorou seu desempenho como visitante: de 33% para 67% — Foto: Wesley Santos/Agência PressDigital

Marcação no ataque

Técnicos brasileiros têm como filosofia contar com jogadores de ataque velozes, habilidosos ou, se possível, com as duas características no ataque, mas tanto Jesus como Sampaoli, que trabalhou no Sevilla, da Espanha, trouxeram para o Brasil uma mentalidade mais europeia, com ocupação de espaços, o jogo posicional inspirado em Marcelo Bielsa. Por essa cartilha, uma das principais missões é a marcação agressiva, conhecida como 'marcação de linhas altas'.

Com a chegada do treinador português, o primeiro homem de marcação do Flamengo passou a ser Gabigol. Logo que chegou, Jesus solicitou à diretoria a contratação de um centroavante, pois no Benfica e no Porto dirigidos por ele funcionava a estratégia de roubar a bola na frente para imediatamente servir o camisa 9.

No esquema de Jorge Jesus, Gabigol é o primeiro homem de marcação do Flamengo — Foto: Alexandre Loureiro/BP Filmes

Curiosamente, Sampaoli fez o mesmo pedido à diretoria do Santos, que por sua vez foi buscar Uribe justamente no Flamengo. O colombiano teve menos espaço porque Eduardo Sasha vem conseguindo cumprir uma função parecida com a que Gabigol cumpre no Flamengo.

Em algumas partidas, Eduardo Sasha tem sido utilizado por Sampaoli de forma parecida com a que Jesus utiliza Gabigol — Foto: Luis Moura/Estadão Conteúdo

Contra-ataques: quanta mudança!

Tanto no Rubro-Negro como no Peixe há pelo menos um jogador de muita velocidade: Bruno Henrique, no Fla, e Soteldo, no Santos, são muito acionados para fazer a transição para o ataque, normalmente bem acompanhados por parceiros que são opção para os passes, mas não necessariamente puxando contra-ataques, até porque o adversários fazem de tudo para evitar isso. Com tempo para treinar durante a parada para a Copa América, o modo de jogar das duas equipes mudou. Antes da parada, o Santos era a segunda equipe que mais finalizações fazia em contra-ataques, conseguiu 20 em nove jogos, enquanto o Flamengo era a quarta equipe que mais finalizava em jogadas de contra-ataque, com 18 em nove partidas. Depois da Copa América, as duas equipes finalizaram 45% menos nos contragolpes. Nos últimos nove jogos pelo Brasileirão, o Santos passou a ser a 13ª equipe com essas conclusões (11 tentativas) e o Flamengo, a 14ª (10 finalizações).

Há outro número que mostra como o Flamengo mudou seu comportamento. Nos nove primeiros jogos, quando Abel Braga era o treinador, os adversários receberam 12 cartões amarelos por matarem contra-ataque. Nos nove jogos seguintes, com Jesus, foram só três. Ou seja, o Flamengo finalizou menos em contragolpes e não foi porque os adversários foram mais punidos por parar essas jogadas. É uma questão de posicionamento, mesmo, e também de eficiência, fez menos para fazer melhor: com Jesus, praticamente dobrou a eficiência nas finalizações: pré-Jorge Jesus, o Flamengo transformou em gol 11% dos contra-ataques; pós-JJ, essa marca subiu para 20%, o maior aproveitamento entre todas as equipes no pós-Copa América e um crescimento de 80% na eficiência. Nada mal.

Time de Jorge Sampaoli melhorou em 82% a eficiência nas finalizações a partir de contra-ataques — Foto: Guilherme Dionízio/Estadão Conteúdo

No Santos, só um detalhe foi diferente: diminuiu o número de finalizações em contra-ataques, a eficiência melhorou 82% (mas de 5% para 9%) só que praticamente dobrou de seis para 11 o número de cartões para adversários que mataram essas jogadas. A fase de arrancada do Santos levou os adversários a apelarem mais.

Nem Flamengo nem Santos podem reclamar de qualquer coisa quando o assunto gira em torno de cartões. A equipe paulista é a mais punida com cartões amarelos (50) e a carioca, a terceira mais punida (47). Nos vermelhos a situação é melhor: o Santos levou três; o Flamengo, um.

Menos velozes, tanto Arrascaeta como Sánchez são posicionados estrategicamente, no momento que suas equipes estão sem a bola, para atrapalharem os adversários de modo a não deixar que o time rival saia jogando com tranquilidade. Para Flamengo e Santos, receber o adversário no campo de defesa é algo praticamente proibido, que por isso é evitado a todo momento.

Pressão no ataque

Antes de o Brasileirão ser paralisado, Santos (145) e Flamengo (144) já eram as duas equipes que mais faziam finalizações. A pressão ofensiva levou os clubes à segunda e terceira colocações na classificação, respectivamente. Depois da Copa América, essa pressão diminuiu um pouquinho, com o Santos se tornando a terceira equipe que mais finalizou (137), e o Flamengo, na quinta (125), mas o treinamento durante a parada fez disparar a eficiência. Antes de Jorge Jesus, o Flamengo transformou em gol 10,4% das finalizações, marca que dobrou para 20,8% sob a regência do português. No Santos, o crescimento foi menor, de 41%, passando de 8,3% para 11,7%. O aproveitamento de finalizações do Flamengo que viraram gol após a Copa América é o maior do Brasileirão, o que elevou a equipe a ter o melhor ataque da competição, com 41 gols marcados. O do Santos foi o quarto melhor.

Pontos fracos

Em consequência dessa pressão ofensiva, o Santos é o time que até aqui mais chances reais de gol criou (142), e o Flamengo é o segundo (135). Mas é na eficiência que está a vantagem Rubro-Negra porque além de criar muito, o Flamengo transformou em gol 30% das chances reais, maior marca da competição, enquanto a eficácia do Santos está em 21%, apenas a 14ª no quesito chances reais que viraram gol. Fica evidente qual é o ponto fraco do Santos: a equipe cria muito e desperdiça muito. Pelo menos até aqui.

Do lado do Flamengo, uma questão que deve estar tirando o sono de Jorge Jesus é a bola parada. Só duas equipes levaram mais gols do que o Flamengo a partir de jogadas de bola parada: Avaí (13 gols) e Chapecoense (10 gols), que estão nas duas últimas posições da tabela de classificação. Contra o Palmeiras, o Flamengo levou um gol assim, em cobrança de falta levantada na área, mas o gol foi bem anulado por impedimento. Na Copa do Brasil, o Internacional também fez gol em cobrança de falta levantada na área, mas o Flamengo conseguiu matar o jogo. Quase tudo vem dando certo para o Flamengo, mas o Santos já fez oito gols a partir de bolas paradas no Brasileirão, a quarta maior marca do campeonato. É um ponto de tensão para decidir o campeão do primeiro turno.

*A equipe do Espião Estatístico é formada por: Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, Leandro Silva, Roberto Maleson, Valmir Storti e Vitória Azevedo

Fonte: https://globoesporte.globo.com/rj/futebol/brasileirao-serie-a/noticia/flamengo-x-santos-melhor-mandante-e-melhor-visitante-disputam-titulo-do-1o-turno.ghtml

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