João Luis Jr.: “O Flamengo não pode abandonar a favela porque não existiria Flamengo sem ela”

O maior patrimônio do Flamengo é a sua torcida. Mais do que títulos, troféus, sedes, CTs, valor de marketing da marca, o que torna o Flamengo imenso, o que dá peso à camisa rubro-negra, são os mais de 33 milhões de pessoas, apenas no Brasil, que comemoram cada gol marcado com o manto sagrado e penam a cada gol sofrido por uma equipe que veste vermelho e preto.

E se essa torcida é a maior do Brasil – e segundo várias pesquisas também a maior do mundo – é porque ela tem representantes em cada grupo, cada camada desse mesmo Brasil. O Flamengo é um clube carioca, mas sua torcida vai muito além do Rio de Janeiro, seja lotando estádios no nordeste, seja com toda camisa rubro-negra que aparece ao fundo numa transmissão da Champions League ou da Conchampions. O Flamengo é um clube fundado por garotos brancos de classe média mas que se tornou imenso ao mesmo tempo que unia sua identidade com a população pobre, com os moradores das favelas, com a imensa parcela de negros e pardos que formavam as camadas mais exploradas da nossa sociedade.

Se o Flamengo cresceu, se o Flamengo se tornou o que é, foi exatamente porque o sonho de vencer regatas daqueles garotos brancos da zona sul do Rio de Janeiro foi abraçado por milhões de outros garotos e garotas, que não eram brancos e muitos menos da zona sul, e se transformou num sonho muito maior e mais bonito, um sonho que não envolve barcos mas sim gols, um sonho que atingiu dimensões e conquistas jamais imaginadas exatamente por conta de todas essa multidão que decidiu sonhar em vermelho e preto.

Exatamente por isso situações como a que envolve a restrição na comunicação do Flamengo ao uso da expressão “festa na favela” são não apenas racistas e estúpidas como claramente anti-flamenguistas, ao menos para qualquer um que entenda o que realmente essa camisa significa.

Porque se a nossa torcida é imensa, é exatamente porque ela abraça a todas e todos, seja o sócio criado na Gávea até o torcedor distante que só acompanha o Flamengo pela televisão, seja quem pode pagar 300 reais numa camisa oficial ou o moleque que joga descalço na favela e quando acerta o golzinho feito de chinelo comemora imitando o Gabigol. Se o Flamengo é a maior torcida de um país composto em sua maior parte por pobres e negros, o Flamengo é, quer qualquer empresa contratada pense ou não, quer os preconceitos de alguns torcedores permitam entender ou não, um clube de pobres e de negros. E deveria ter imenso orgulho disso.

Então que amanhã, quando enfrentamos o Vasco pela decisão do Campeonato Carioca, nós possamos ter sim outra festa na favela. Porque o Flamengo não é desse tamanho por conta de elitismos, por conta de preconceitos, por conta de exclusão. O Flamengo é o que é porque ele nasceu de uma paixão e essa paixão precisa abraçar qualquer um de nós, independente de raça, credo, orientação sexual ou condição financeira. Porque se não for assim pode ser qualquer coisa, mas com certeza não vai ser Flamengo.

Repodução: Isso Aqui é Flamengo

Fonte: https://colunadoflamengo.com/2019/04/joao-luis-jr-o-flamengo-nao-pode-abandonar-a-favela-porque-nao-existiria-flamengo-sem-ela/

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