Felipe Cardoso foi um dos sobreviventes da tragédia no Ninho, que ocorreu em fevereiro do ano passado. Na ocasião, dez jovens morreram no incêndio que atingiu parte do Centro de Treinamento do Flamengo. O meia foi liberado pelo Mais Querido e, nesta terça-feira (21), fez uma publicação em seu Instagram oficial, comentando a situação.
Veja o pronunciamento na íntegra:
Gostaria de iniciar agradecendo a Deus por minha vida!!!
Começo falando de SONHOS e sua dura busca em alcançá-los.
Desde os meus primeiros passos, iniciei minha trajetória de ir atrás de um que deve ser o maior sonho de 10 entre 10 meninos no Brasil, ser jogador de futebol. Cheguei ao Santos aos 9 anos de idade, e lá fiquei até o início de 2019. Aprendi muito e sempre serei grato por tudo e todos que estavam lá e me ajudaram.
Em 04/02/2019, cheguei ao Clube de Regatas do Flamengo. Continuava vivendo um sonho e buscando o que muitos, ou milhares, como eu, vivem dia a dia. Não é fácil deixar a família, amigos, seu lar, seu conforto, mesmo que seja pouco, para seguir firme e forte, em busca do tão sonhado desejo de se tornar jogador de futebol. Porém, no dia 08/02/2019, esta busca acabou para alguns que estavam ao meu lado. Graças ao bom Deus, eu e alguns colegas conseguimos nos salvar. Me pergunto todos os dias o porquê daquela tragédia, rezo, choro e oro para os que não conseguiram se salvar, pedindo que estejam bem ao lado de Deus, onde imagino que sonhos sejam mais fáceis de serem realizados. Penso em seus familiares, pai, mãe, irmãos, amigos que não terão mais abraços, ligações, contato e continuarão, por toda a vida, pensando em como seria se eles ainda estivessem aqui, correndo atrás do que, naquele dia terrível, estávamos.
Volto a agradecer a Deus pela minha vida e das demais que estão aqui ainda, podendo continuar seguindo nosso maior objetivo. Aprendi mais uma dura lição da vida em busca deste sonho, ao ser liberado pelo Flamengo, no dia 13/01/2020, por telefone. Não entendi, chorei, gritei, culpei tudo e todos. Não quis falar com ninguém por um período. A dor foi gigante em meu peito.
Conversei muito com Deus, e enxerguei que teria que seguir, não só por mim, mas por todos que se foram naquela tragédia, meus eternos irmãos: Athila, Arthur, Bernardo, Christian, Gedson, Jorge, Pablo, Rykelmo , Samuel, Vitor, nossos familiares e amigos.
Algumas portas foram se abrindo, graças a Deus, mas a dor e busca em entender tudo o que está acontecendo na minha vida, em menos de um ano, continua maior.
Após refletir muito, cheguei à conclusão de que somos apenas números para muitos. Ninguém enxerga que somos jovens/adolescentes buscando uma vida melhor para nossas familias, dia a dia longe de casa, cada um com seus problemas e dificuldades, pensando se nossos irmãos tem o que comer, se nossas mães estão bem, se nossos pais continuam firmes nos trabalhos em busca do sustento da casa. Se nossos amigos sentem nossa falta e torcem por nós.
Share this content: