Marcos Almeida: “Enquanto não aprender com derrotas, Flamengo seguirá dando vexame atrás de vexame”

Dói dizer, mas foi mais do mesmo. Até no quesito torcida, algo inimaginável poucos anos atrás. Os ingressos exorbitantes impediram os nossos de lotar, ainda que estivéssemos em plena em maioria. Numérica, não sonora. Como na final da última Copa do Brasil, foi dos cruzeirenses o barulho no Maracanã. Agora mais intenso, imponente, e humilhante.

Humilhados, fomos humilhados. Mais uma vez, dentre outras tantas, nos últimos muitos anos. Não foi a primeira e, aparentemente, não será a última, num futuro próximo. Desgraça que só desaparecerá quando assumirmos ao mundo – e não só a nós mesmos – que o Flamengo não está imune a vexames.

São inúmeras derrotas recentes acachapantes que nada ensinam. Seguimos perdendo, cometendo os mesmos erros, acreditando que todos são pontuais.“Hoje perdemos, faz parte, amanhã venceremos”.O amanhã chega e o Flamengo perde, repetindo o discurso e dando início a novos ciclos de impecável semelhança.

Eduardo Bandeira de Mello tira a essência do Flamengo, afasta o pobre do estádio. Faz o que quer com o futebol do clube, abusa de inexperientes e não cobra resultado, vergonha na cara, grandiosidade. Realiza excelente trabalho na base, tem grande desempenho administrativo, nos afastou da briga contra o rebaixamento e creditou ao Flamengo o posto de favorito a qualquer campeonato. Não só o de favorito, mas o de fracassado também.

É fato que fracassos em campo não são exclusividade da gestão Bandeira. Há tempos o Flamengo vem acumulando resultados vergonhosos, que, de inacreditáveis, se tornaram comuns; ao passo em que cada vez menos são considerados inadmissíveis. As derrotas voltam semestre após semestre, e nada é feito para que isso mude.

O Flamengo – como um todo, na sinergia que rege sua existência – opta por não buscar uma solução ideológica, atém-se às táticas e técnicas. Mudam-se os times, os treinadores, os dirigentes, os adversários. Apenas a derrota se mantém.

Por piedade divina, ainda há a chance de mudarmos de filosofia e nos classificarmos. Pois pela bola jogada, chances criadas, e apoio da torcida, o Cruzeiro poderia ter vencido por 4, 5 a 0. Outra vez em casa, mais uma humilhação pra coleção rubro-negra na última década.

VEXAMES DO FLAMENGO NOS ÚLTIMOS 11 ANOS

2008

    • América do México – Dispensa explicações
    • Flamengo 3×3 Goiás – Maracanã, penúltima rodada do Brasileiro – Flamengo abre 3×0, sofre o empate, e não vai à Libertadores

2010

    • Universidad do Chile – Na fase de grupos da Libertadores, perde fora e empata em casa. Nas quartas de final, toma um baile no Maracanã. Perdia por 3×1 até os 42 do segundo tempo, quando marca em falha incrível do goleiro. É eliminado, com vitória, na volta.
    • Brasileirão – Campeão no ano anterior, luta contra o rebaixamento. Só chega à última rodada sem chance de cair porque Vitória e Atlético-GO faziam confronto direto, aniquilando as chances de ambos conquistarem 3 pontos.

2011

    • Copa do Brasil – Eliminado pelo Ceará com derrota em casa
    • Universidad do Chile – Flamengo goleado no Engenhão, pela Sul-Americana. Derrota por 4×0 e eliminação com nova derrota (1×0) no jogo da volta.
    • Brasileiro – Estabelece a maior sequência invicta da história dos pontos corridos (16 jogos). Podendo assumir a liderança em caso de vitória, Leva 4×1 em casa do Atlético-GO, que estava na zona do rebaixamento.

2012

    • Olimpia – Pela Libertadores, Flamengo abre 3×0 no Engenhão, placar que se mantém até os 32 minutos do segundo tempo. Aos 44, estava 3×3.
    • Emelec – Flamengo se torna o primeiro time brasileiro, na história da Libertadores, a ser derrotado pelo Emelec.
    • Libertadores – Flamengo se torna o primeiro grande brasileiro eliminado duas vezes na fase de grupos, em modelo no qual mais de 1 time da chave se classifica (décadas de 70 e 80 apenas o campeão do grupo avançava).

2013

    • Campeonato Carioca – Flamengo não se classifica ao mata-mata da Taça Rio e é eliminado com duas rodadas de antecedência, após perder para o Audax e empatar com o Duque de Caxias. O clube tenta, no STJD, conquistar os pontos perdidos em campo contra o Duque de Caxias, sem sucesso.

2014

    • Bolívar – Flamengo perde fora e empata em casa, com erro de arbitragem a seu favor. Torna-se o primeiro clube brasileiro, na história da Libertadores, a ser eliminado por um boliviano.
    • Libertadores – Eliminado pela segunda vez seguida na fase de grupos, ganhou apenas do Emelec. Na última rodada, se classificaria se batesse o León, no Maracanã. Perdeu.
    • Atlético-MG – Após vencer por 2×0 no Maracanã, abre 1×0 no Mineirão, toma a virada, perde por 4×1 e é eliminado da Copa do Brasil. Duas semanas depois, sofre nova goleada do Atlético: 4×0.

2015

    • Vasco – Eliminado pelo Vasco do Carioca e da Copa do Brasil. Fica 9 jogos sem ganhar do rival (6D, 3E), colecionando 3 eliminações, num intervalo de 1 ano e 5 dias. O pior Vasco da história, que fez apenas 13 pontos no primeiro turno do Brasileiro e terminou rebaixado.

2016

    • Copa do Brasil – Enfrenta apenas times da Série C (Confiança e Fortaleza). Joga 4 jogos, perde 3, um em casa. Pela primeira vez na história, Flamengo eliminado – de qualquer competição – por um time de terceira divisão.
    • Copa Sul-Americana – Após vencer fora, é eliminado pelo minúsculo Palestino, do Chile, com derrota em Cariacia.

2017

    • Libertadores – Cai pela 3ª vez seguida na fase de grupos. Isola-se como clube brasileiro com mais eliminações na fase de grupos (5), sendo que todas elas em grupos nos quais 2 times avançavam.
    • Campeonato Brasileiro – Comemora com ênfase e foto de título um SEXTO LUGAR.
    • Copas – Chega a duas finais, perde ambas. Pela segunda vez na história, Flamengo perde um título no Maracanã para o Independiente.

2018

  • Libertadores – Classifica-se com apenas duas vitórias e toma um baile do Cruzeiro, num Maracanã mudo, no jogo de ida das oitavas de final.

POR QUE “LIBERTADORES” EM NEGRITO?

Para mostrar o quão somos fracassados, de 1982 pra cá, nesse torneio. Erros se repetem, nada muda. O time não apenas não aprende a vencer, como pior: parece se aperfeiçoar em perder. Derrotas frustram, tiram o sono, maltratam, mas cada vez doem menos, surpreendem menos. O Flamengo se acostumou a perder Libertadores e vive apenas achando que “uma hora vai”, sem mudar de postura.

É verdade que o time tem suas deficiências, hoje carece de lateral-direito e centroavante, opta sempre por deixar a melhor opção para a zaga no banco, jogou a do ano passado com Alex Muralha, Rafael Vaz e Trauco titulares. Mas não era para tanta humilhação.

O Flamengo nunca venceu um confronto de quartas de final da Libertadores(em 1981, eram duas fases de grupo e a final). É inadmissível que um clube do tamanho do Flamengo nunca tenha avançado à semifinal do maior campeonato do continente. Dentre os chamados “grandes” do futebol Brasileiro, apenas o Botafogo nunca venceu um confronto de quartas de final. Todos os outros, mais São Caetano e Atlético-PR, já passaram dessa fase com êxito.

Nas últimas 4 edições

Nacional-PAR, Tigres, Independiente del Valle e Lanús disputaram a final.

Defensor, Guarani-PAR, Bolívar, Barcelona-EQU chegaram à semifinal.

Barcelona e Bolívar à parte, são times não considerados grandes nem em seus próprios países. Todos com menos peso, tamanho, história, dinheiro e torcida que o Flamengo. E com menos time também.

Perder faz parte do jogo, é claro. Mas não dá pra engolir tanta humilhação. É inadmissível ver esses e o São Caetano chegando tão longe, enquanto o Flamengo não consegue passar das quartas de final. A gente é rubro-negro até a alma, a gente é doente, a gente é maluco, a gente vai acreditar até o fim e segue acreditando. Mas ou o Flamengo aprende com as derrotas e para de perder, ou ganha sem aprender nada, mas ganha. Basta.

Reprodução: Marcos Almeida | Nosso Flamengo | ESPN

Fonte: http://colunadoflamengo.com/2018/08/marcos-almeida-enquanto-nao-aprender-com-derrotas-flamengo-seguira-dando-vexame-atras-de-vexame/

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