Olá, companheiros e companheiras de Coluna do Fla. Como vão? Foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o projeto de lei nº 4260/2018, de autoria dos deputados estaduais André Ceciliano e Zeidan Lula, ambos do PT, que recria o setor de ingressos populares no Maracanã, a famosa “Geral”.
O projeto foi aprovado no plenário da Alerj pelos parlamentares estaduais. O texto, com três artigos, dispõe o seguinte:
“Art. 1º – Fica autorizada, assim como a realização das obras de segurança, a retirada das cadeiras hoje existentes na parte inferior do estádio Mário Filho, o Maracanã.
Art. 2º – As intervenções estão autorizadas para fim exclusivo de criação de setores populares com ingressos mais baratos no estádio, nos moldes da antiga “geral”.
Art. 3º – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”.
A justificativa dos deputados petistas é que a volta da Geral no Maracanã possibilitará “reforçar laços históricos com as parcelas da população de menor renda”. Além disso, os parlamentares criticam o processo de elitização dos estádios brasileiros. “(O projeto de lei) é pontapé inicial para que o Maracanã reencontre a sua história e reforce os seus laços com seu povo, muitas vezes afastado pelo processo de elitização do futebol”.
Pois bem! A ideia, em si, é excelente. Criar um setor com preços populares é importantíssimo para o Flamengo manter contato com um grupo socioeconômico que compõe a maior parte da sua torcida, no Rio de Janeiro e em outras partes do país. Segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada na semana passada, 24% dos torcedores do Flamengo se autodeclaram negros, e entre a população que ganha até dois salários mínimos, 22% torce para o Mais Querido. No caso, lideramos os dois quesitos, com larga distância para o segundo colocado.
Isso demonstra que o nosso cântico “festa na favela” não é em vão. Mas, até que ponto esta parcela dos torcedores consegue acompanhar o time do coração de perto? Segundo um levantamento do globoesporte.com, o ticket médio cobrado pela diretoria do Flamengo no Brasileirão é R$39 – o sétimo mais caro da competição.
Para muitos, pode parecer barato. Mas, para quem ganha até dois salários (R$1.996,00), pagar para ir ao estádio é um luxo. Por isso, a ideia da recriação de um setor popular não é ruim. O esporte é lazer e ferramenta de inclusão social, comprovado em inúmeras pesquisas feitas no Brasil e no exterior.
Contudo, a decisão de André Ceciliano e Zaidan Lula, de levar esta discussão para dentro de um projeto de lei, se mostra equivocada. Hoje, há uma indefinição de quem irá comandar o Maior do Mundo. O governador Wilson Witzel (PSC), flamenguista declarado, rompeu com o Consórcio Maracanã, que administrava o estádio desde 2014. Atualmente, o estádio está sob a tutela do Estado do Rio de Janeiro, com os clubes – Flamengo e Fluminense – administrando provisoriamente, até que um edital definitivo seja feito.
De acordo com o Processo Legislativo, o governador tem até 15 dias úteis para aprovar ou rejeitar um projeto de lei encaminhado pela Assembleia Legislativa. Caso seja sancionada a matéria, a primeira pergunta é: quem arcará com os custos da obra? A segunda: o Maracanã terá que passar por mais uma obra (foi fechado para reformas visando o Pan de 2007 e a Copa do Mundo de 2014)? A terceira: quem arcará com os prejuízos esportivos e financeiros dos clubes por causa do fechamento do estádio?
Com o Estado do Rio de Janeiro passando por um processo financeiro extremamente complicado, é difícil imaginar que a iniciativa passe pelo Palácio Guanabara. Se passar, ainda é preciso um longo caminho burocrático, já que a contratação da empresa que irá fazer a obra terá que passar por um processo de licitação. Ou seja, nada da recriação da Geral ocorrer neste ano.
Então, devido a todo este problema, acredito que a melhor solução seria que os parlamentares, através de uma comissão, se reunissem com a Secretaria de Esportes, Governo do Rio e clubes gestores, para que no próximo edital de concessão do Maracanã, fosse colocado como regra para o(s) vencedor(es) a criação de um espaço popular. Não é absolutamente necessário que se recrie a Geral. Afinal de contas, dinheiro público foi gasto para a colocação das cadeiras que estão hoje no Maraca. Poderia baratear o ingresso, mas mantendo a estrutura como está agora.
Os parlamentares jogaram a “batata quente” no colo do governador. Se ele aprovar o projeto, pode estar arrumando “sarna para se coçar”. Se rejeitar, corre o risco de ter o veto derrubado pela Alerj, onde não tem maioria parlamentar. De qualquer maneira, o que vemos são políticos tentando usar o bom momento do Flamengo como palanque, principalmente com a proximidade das eleições municipais de 2020.
A discussão está posta! Agora é esperar os próximos capítulos desta novela, que deve ser longa.
Matheus Brum
Jornalista
Twitter: @MatheusTBrum
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Fonte: https://colunadofla.com/2019/09/matheus-brum-geral-no-maraca-ideia-boa-com-solucao-ruim/