O Flamengo passou por seu pior capítulo em 123 anos de existência. No dia 8 de fevereiro, um incêndio no CT Ninho do Urubu vitimou 10 jovens, deixando outros três feridos. Dentre eles, estava Jhonata Ventura, de 15 anos, que teve diversas queimaduras pelo corpo e foi o último a deixar o hospital. Em entrevista concedida ao “Esporte Espetacular”, da Rede Globo, o jovem contou detalhes sobre os momentos de terror vividos no dia da tragédia.
– Quando aconteceu o incêndio, eu lembro de estar deitado e vi o grito dos meninos no outro quarto. Só que eu achei que fosse brincadeira, que não era nada demais. A gente fazia muito essas brincadeiras de zoar um ao outro, era normal. Depois de uns cinco minutos, o (Francisco) Dyogo pulou da cama dele e falou que estava pegando fogo. Quando a gente abriu a porta do quarto, entrou muita fumaça. A gente começou a colocar o rosto para fora da janela, foi um momento desesperador. Começamos a gritar e pedir socorro para o monitor. Ele conseguiu quebrar a grade e foi pulando de um em um -, disse Jhonata, revelando também como conseguiu sair do alojamento.
– Do nada eu senti uma ardência, vi que estava pegando fogo e comecei a me debater e gritar, e aí tirei a camisa. Eu lembro de ter gritado o Átila, mesmo sem estar vendo nada. Fui tateando a parede, estava tudo muito escuro e daí alguém me puxou. Foi nessa hora que consegui ver o estado do alojamento, é uma das coisas que jamais vou esquecer -, declarou.
Em casa no momento da tragédia, Renata Cruz, mãe de Jhonata Ventura, contou que ficou sabendo do ocorrido após uma amiga ligar e pedir para que ela assistisse ao noticiário na televisão.
– Uma colega minha me ligou e me perguntou se eu estava com a televisão ligada. Foi desesperador, fiquei sem chão. É uma dor tão grande, em sentimento de vazio. Ninguém nunca está preparado para isso. O meu medo era saber que o meu filho era uma das vítimas fatais.
Jhonata ainda falou, por fim, sobre como ficou após saber das mortes de seus amigos das categorias de base, contando que “desabou” após ser informado do falecimento de Arthur Vinicius, um de seus grandes amigos na base do Flamengo.
– Fiquei sabendo dos nomes dos que faleceram, e cada nome falado é como se fosse um soco na cara. Quando fiquei sabendo que Arthur também se foi, o meu mundo desabou. Eu tinha uma amizade muito forte com ele. Eu vou sempre colocar na cabeça que irei jogar por eles -, ressaltou o zagueiro.
O jovem segue em fase de recuperação após ter tido 30% do corpo queimado e ainda não há uma data para o retorno aos gramados. Nesta segunda-feira (06), o Flamengo fechou acordo indenizatório com a família de Jhonata, em reunião que contou com a presença do próprio zagueiro, de sua mãe, do advogado e do vice-presidente geral do clube da Gávea, Rodrigo Dunshee.