
O dia 29 de novembro de 2016 já estava nas suas primeiras horas quando recebi a seguinte mensagem: “Está acordado?”. Era meu editor Vitor. Diante da minha resposta positiva, veio o pedido que mudou completamente o rumo da minha noite de sono: “parece que aconteceu alguma coisa com o avião da Chape, tem como dar uma olhada?”. E lá fui eu, sem ter a dimensão da gravidade do que tinha ocorrido, achando que era algo que atrasaria a chegada do time à Colômbia para a final da Sul-Americana daquele ano.
Na verdade, no início ninguém tinha ideia de nada. As informações eram desencontradas. No meio da madrugada brasileira, a melhor ferramenta de busca por informações era o Twitter. Tinha gente falando em pouso forçado e que estava tudo bem, mas já tinha também quem falasse em mortes. Os extremos eram vários, mas na adrenalina do medo isso não importava. Aprendemos com o tempo a filtrar o que valia a pena e o que não valia. A pior das hipóteses era ruim demais para ir dormir acreditando que nada de grave havia acontecido. Ficamos acesos, fizemos café, ligamos também a televisão e fomos embora na maratona. Eu queria informar e ser informado. Torcendo por um final feliz, que infelizmente não veio.

As horas seguintes tiveram o contraste de parecerem eternas e, ao mesmo tempo, aceleradas. Mais uma vez a adrenalina falando mais alto, já que as autoridades colombianas começavam a confirmar as primeiras mortes. Acabei me encontrando num momento surreal: o de negociar com o destino para que os óbitos fossem poucos. Foi quando me dei conta do quão absurda era a situação: “torcer por poucas mortes! Como assim?”.
Foram dez horas ininterruptas escrevendo e atualizando o público. As idas e vindas de quem teria se salvado e de quem teria partido. Com a tragédia sendo escancarada, fui ganhando ainda mais casca para não me deixar abater durante o trabalho. Primeiro a informação. Até que o dia foi amanhecendo, as pessoas foram despertado e sabendo de tudo, detalhe por detalhe. Os celulares dos nossos leitores receberam mais de dez notificações numa só noite. Triste que tenham começado a terça-feira desta forma, mas era o nosso dever, paciência.

Com a chegada de meus colegas para o trabalho, meu corpo não aguentou e pediu substituição para tentar dormir, já quase no fim da manhã. Quando me desliguei do “plantão improvisado”, a ficha caiu completamente e comecei a chorar. Um choro que nunca havia experimentado por futebol (e olha que meu time dá muitos motivos para chorar). As lágrimas de quem baixou a adrenalina e percebeu que cobriu a maior tragédia da história do futebol brasileiro, talvez até mundial. E que viu colegas de profissão partindo com o objetivo que tive durante todo aquele tempo. Informar. Sempre.
Um choro que durou aquele dia inteiro. A semana. O mês. Até hoje.