A tensão que paira nos bastidores do futebol brasileiro tem dias cruciais pela frente. Descontentes com o Flamengo, os clubes aguardam uma reunião com a CBF para passar a limpo o ponto de vista em relação ao rubro-negro e o impasse recente envolvendo o jogo contra o Palmeiras. Publicamente, o Atlético-MG chegou a defender uma punição ao Fla por tentar se beneficiar de decisões da Justiça comum.

A sede por resolver o assunto era tanta que a ideia no fim de semana era bater um papo com o presidente da CBF, Rogério Caboclo, já na manhã desta segunda-feira. Mas a realização da partida no domingo desacelerou o processo. De qualquer forma, os presidentes integrantes da Comissão Nacional de Clubes (CNC) – Bahia, Fluminense, Palmeiras, Atlético-MG e Grêmio – esperam o retorno da entidade para o agendamento nesta semana.

No cenário atual, parece ser mais difícil que o Flamengo consiga se reconciliar com os clubes do que com a CBF. Embora os dirigentes rubro-negros não tenham dado sinal de vida na entidade desde a caótica reunião de quinta-feira, a postura na CBF é esperar uma reaproximação natural. Ao mesmo tempo, isso não significa mudança na visão da CBF sobre a postura do Fla. A entidade bateu o pé para manter o jogo contra o Palmeiras por entender que as diretrizes técnicas precisavam ser seguidas. Adiar jogo de um time com mais de 13 jogadores à disposição e sem exames que sacramentassem a indisponibilidade deles poderia abrir um precedente perigoso, na visão da CBF.

Os clubes, por outro lado, estão desconfiados e criticam o Flamengo nos bastidores por um comportamento que classificam como egoísta. A tensão se elevou na discussão sobre a volta ou não do público aos estádios do Brasileirão. Na quinta, não houve acordo para votação. No sábado, o Flamengo se ausentou, e os 19 clubes fecharam uma posição unânime de que não é o momento de colocar torcida nos jogos novamente.

As ações impetradas pelos Sindicados de Empregados de Clubes (Sindiclubes) e dos Atletas Profissionais do Rio (Saferj) apimentaram ainda mais o cenário. As liminares concedidas foram ao encontro do desejo do Flamengo, o que gerou a postura dos clubes de debaterem entre si a perspectiva de punição ao Flamengo.

Mas a realidade impõe algumas ponderações ao dirigentes. Como dizer que o cenário foi orquestrado pelo rubro-negro, se o Flamengo era réu ao lado da CBF em um dos processos? Para punir, os adversários teriam que ir além das ilações e apresentar provas de que o rubro-negro, de fato, colaborou para as ações.

Em meio à guerra de liminares, a Conmebol procurou se inteirar sobre os fatos do fim de semana, até porque uma das decisões poderia respingar nela. O Tribunal Regional do Trabalho do Rio (TRT-RJ) chegou a vetar treinos e jogos do Flamengo por 15 dias. A entidade sul-americana não precisou se meter na discussão para ver a decisão cair após recurso feito pela CBF.

Ao Flamengo, resta agora recuperar os jogadores para os próximos jogos, já que o adiamento está fora de questão. Politicamente, a relação também precisa de uma cura.