Existe uma figura recorrente nas discussões envolvendo as convocações para a Copa do Mundo: a do nome ausente que às vezes é tido como injustiçado. Que, em caso de resultado negativo no Mundial, levanta a bola para o comentário especulativoso: “ah, se Fulano tivesse sido ao menos testado….”.
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Raphael Veiga, com boas chances de enfrentar o Flamengo amanhã, faz de tudo para ter a primeira chance pela seleção antes do Catar. Entretanto, corre o risco de entrar para a história como esse personagem preterido. O meia do Palmeiras atravessa grande fase, está conhecidamente no radar da comissão técnica de Tite, mas enfrenta contexto desfavorável para furar a barreira que o mantém sem convocações na carreira.
Tite segue a tendência do futebol mundial, que tornou os meias peça não tão relevante nas formações de times e elencos. Eles perderam espaço para os volantes com capacidade ofensiva e para os atacantes de lado.
O treinador está otimista na ampliação do número de jogadores convocados para a Copa, dos 23 tradicionais para uma lista maior, de até 26. Neste caso, as chances de um terceiro meia — os dois atualmente são Lucas Paquetá e Philippe Coutinho — ser chamado aumentam. Na última convocação com esse número de jogadores, Everton Ribeiro foi lembrado. O jogador do Flamengo, ao dar sinais de melhora depois de queda de rendimento, vira concorrente de Veiga.
— Um dos aprendizados que o tempo tem me dado como técnico é de não fechar possibilidades reais porque elas acontecem. Têm atletas de alto nível que vão se afirmando, se consolidando e evoluindo ao longo do tempo — afirmou o treinador, quando questionado sobre Veiga na última convocação da seleção, em março.
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A comissão técnica evita trazer isso a público de forma mais clara, mas põe na balança o fato de um jogador convocável atuar no Brasil ou em ligas mais fortes da Europa. Aos 26 anos, Veiga lida com a desvantagem por isso. Paquetá e Coutinho, concorrentes de Raphael Veiga, se beneficiam do fato de serem medidos pela régua do futebol europeu.
Tempo curto para ganhar o técnico
Mas mesmo se não fosse o caso, os dois jogadores possuem algo que é muito valioso para todos os técnicos de seleção: lastro, histórico com a equipe e, principalmente, com o próprio treinador.
As convocações para as Copas do Mundo, desde 2002, mostram como, quanto mais longo é o trabalho da comissão técnica, mais difícil é haver jogadores capazes de furar as preferências já estabelecidas ao longo do tempo.
A próxima lista de Tite, uma nova brecha para Raphael Veiga ser convocado pela primeira vez, será para os jogos de junho, três datas Fifa disponíveis, ainda sem adversários definidos. Os amistosos acontecerão a cinco meses da Copa do Catar e é muito raro ter jogadores levados para um Mundial com intervalo tão curto entre a primeira experiência com a camisa do Brasil e a competição.
Luiz Felipe Scolari nadou contra a maré. Vinte anos atrás, levou cinco jogadores com apenas seis meses ou menos de seleção para o Japão e a Coreia do Sul. Dois foram titulares, Gilberto Silva e Kleberson. Voltou com o penta para casa, depois de apenas um ano à frente da equipe.
Quando os treinadores fizeram um ciclo completo, de quatro anos de trabalho, se tornaram mais fechados a novidades de última hora. Parreira não levou surpresas para a Copa de 2006. Dunga levou Michel Bastos e Grafite em 2010, mas preteriu Neymar, já fenomenal no Santos.
Felipão novamente assumiu o Brasil com o bonde andando. Depois de um ano e meio à frente da seleção, convocou o lateral-esquerdo Maxwell para a Copa de 2014.
Tite, após dois anos treinando os pentacampeões, não tirou coelhos da cartola para a Rússia, em 2018. Seguiu como técnico da equipe para o Catar e é inegável, renovou a equipe: dos 25 da última lista, apenas nove estiveram no Mundial passado. O que talvez falte para grande fase de Raphael Veiga ser premiada é o timing, que não é dos melhores. Ou então a vaga a mais na relação de convocados.