Não é segredo para ninguém no Flamengo que a passagem de oito meses de Rogério Ceni pelo clube vive seu momento de maior desgaste, tanto com a diretoria como com os jogadores. Não apenas pelos resultados, mas também pelo relacionamento e a postura em diversas situações dentro e fora de campo.

Só que após mais uma derrota, agora para o Atlético-MG, a direção decidiu esticar a corda e Ceni vai comandar o treino desta segunda-feira, de olho no jogo com a Chapecoense, no fim de semana, e no aguardo da reapresentação de Gabigol e Éverton Ribeiro, com a seleção até a final da Copa América, sábado.

Mas quais as razões para que o Flamengo mantenha o comando técnico mesmo sem clima?

A principal aposta é que a volta do elenco completo e uma vitória no próximo domingo sejam capazes de dar um impulso para que o time deixe a má fase para trás às vésperas de inicar a disputa das oitavas de final da Libertadores. No dia 14, a equipe pega o Defensa y Justicia na Argentina, e terá o jogo de volta no Rio no dia 21.

Até lá, Rogério Ceni poderá encontrar novas soluções já com todos os atletas à disposição, e a cúpula do Flamengo terá tempo para debater um possível sucessor. Entra em cena o outro motivo para que nenhuma decisão seja tomada agora: o financeiro.

Também não é novidade que o clube vive um momento difícil, sem a receita esperada devido a falta de público. E com a necessidade de vender jogadores no atacado para fechar o mês e pagar os salários dos jogadores em dia.

Por conta disso, demitir Ceni seria aumentar os investimentos tanto em um novo treinador, como arcar com uma multa de quase R$ 3 milhões. O técnico recebe hoje menos de R$ 500 mil, e qualquer nome de peso no mercado nacional ou internacional não viria por menos.

Nesse cenário, não é que o Flamengo deseje que Ceni peça demissão, mas o desgaste e o isolamento provocado pelas circunstâncias podem tornar um acordo pela saída mais fácil. Pelo perfil de Rogério, porém, ceder nesse aspecto e abrir mão de seus direitos é improvável.

Baixar a cabeça para certa insubordinação dos atletas no que se refere a plano tático e repeito à hierarquia, tampouco. Sendo assim, se os resultados não vierem, o desgate tende a se tornar insustentável. O mesmo roteiro que levou Doménec Torrent a ser demitido.

Com o pouco recurso que tem disponível, a diretoria rubro-negra espera poder trazer um ou outro reforço na janela de transferências, mas até agora não atendeu a nenhum pedido de Ceni. Fica claro que o processo de reformulação é freado pela necessidade de manter as finanças em dia como principal bandeira ao fim da gestão Rodolfo Landim, que termina em dezembro. Já que viver um ano de conquistas em campo parece cada vez masi difícil.