O Flamengo promoveu o seminário antirracista “Valorização da Cultura Negra nos Esportes: Identidade e Desafio” na terça-feira (18/11) no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab). O encontro reuniu representantes de clubes, atletas olímpicos e movimentos sociais para debater políticas institucionais, educação antirracista e ações práticas. O clube apresentou três anos de trabalho de letramento racial e anunciou mudanças estatutárias que elevam o combate ao racismo a princípio institucional.
Mudança no Estatuto e ações do Flamengo
As emendas aprovadas inserem o combate ao racismo no artigo 2º, vedam discriminação no artigo 3º e preveem sanções no artigo 51. Para associados, as penalidades variam de suspensão por 365 dias à exclusão; para empregados e prestadores, a infração pode resultar em demissão ou rescisão motivada, sem prejuízo da responsabilização civil e criminal. O Flamengo reforçou que, além das medidas disciplinares, a prioridade é a educação e a prevenção por meio de letramento racial.
Camila Nascimento, gerente de Responsabilidade Social do Flamengo, explicou o funcionamento do sistema de denúncias e a importância da formação contínua.
“No combate ao racismo, acho que todos estão unidos. Não se trata de clubismo, se trata de… Racismo é desigualdade, racismo é injustiça, então ninguém pode ser a favor disso”
“Existe um sistema, um canal. E também eu acho que o que vale, para além desse passo super importante que foi a inclusão da cláusula antirracista no Estatuto, eu acho que o que é muito significativo também é a educação antirracista que a gente vem trabalhando no clube.”
Painéis, depoimentos e representatividade
Os painéis reuniram profissionais da cultura, educação e movimentos sociais para discutir metodologias de formação e impacto institucional. Vitor Matos relacionou a luta antirracista à reparação da humanidade e destacou o papel dos clubes como agentes de mudança.
“Ou a gente está falando da construção, ou da reconstrução, ou para usar uma palavra muito usada na discussão antirracista, da reparação de uma coisa que todo mundo deveria ter, que é a humanidade. A gente está falando de direitos humanos, direito de ir e vir.”
“Esse exemplo que o Flamengo tem dado, não sozinho, mas é esse tipo de exemplo que precisa ser feito e precisa ser copiado para que a gente consiga acelerar esse processo de reparação da humanidade de todos. Uma sociedade mais humana, ou que, pelo menos, todos tenham humanidade igual”
Bárbara Azeo e Yago Feitosa reforçaram a relação entre racismo, saúde e desempenho esportivo e a importância de ouvir os jovens nas formações do clube. Atletas olímpicos do Flamengo também participaram, destacando representatividade e justiça.
“A gente chega ao entendimento de que para gente tratar, fazer esse diálogo acontecer de uma maneira efetiva, a gente precisava falar de desempenho esportivo e impacto do racismo nesses atletas, no grupo, de um modo em geral. E isso tá diretamente relacionado com saúde.”
“Eles compreenderam muito rapidamente a ponto de, no final de cada processo, eles apresentarem para a gente maneiras de combater o racismo dentro do segmento deles, dentro da modalidade esportiva deles, porque eles conseguiam identificar.”
“Desejo que os negros continuem no topo da ginástica conquistando o que merecem”
“Que todo mundo busque letramento racial pensando no bem comum”
“Eu imagino um futuro em que não exista a injusta preocupação com a cor da pele”