Elencos milionários com resultados diferentes refletem diretamente no trabalho de seus treinadores. Por isso iniciar um trabalho do zero, como fazem Paulo Sousa no Flamengo e Antonio Mohamed, ‘El Turco’, no Atlético-MG, reúne semelhanças e diferenças, que passarão pelo primeiro grande teste na final da Supercopa, neste domingo, em Cuiabá.
Em pouco mais de um mês, os processos de formação da equipe de olho na temporada como um todo foram a tônica no dia a dia dos dois clubes. Mas para atingir tal objetivo, o português de 51 anos tem sido obrigado a “revolucionar”, enquanto o argentino da mesma ideia fala em continuidade.
A apostas das equipes nos dois técnicos primou pela filosofia particular de cada clube quando o assunto é comissão técnica. Embora ambos queiram ganhar tudo e tenham orçamentos para isso, no Flamengo Paulo Sousa chega para iniciar de fato um trabalho do zero.
– Dois treinadores novos, momentos diferentes. O Atletico ganhou praticamente tudo ano passado, estão motivados. Nós iniciamos processo completamente novo. Estamos crescendo bastante. Vai ser um jogo digno de final. Nossa grande vantagem pode não ser os processos iniciais, mas nossa Nação, que vai nos empurrar para vencer – disse o português ao projetar a partida.
Com o elenco mantido, Sousa tem o desafio de implementar novas ideias táticas para não ficar refém do modelo de sucesso que consagrou o Flamengo de Jorge Jesus. Para isso, indicou que não há vagas cativas e colocou a concorrência e a cobrança nos treinos a serviço de um time mais competitivo e jovem.
No Atlético-MG, El Turco foi o escolhido em detrimento exatamente de Jorge Jesus. A diretoria do Atlético-MG condicionou a chegada do novo técnico a uma comissão mais enxuta, para seguir com seus profissionais de alto nível na preparação física. Enquanto o Flamengo, que não quis esperar por Jesus, trouxe uma comissão estrangeira numerosa outra vez.
Vieram dois auxiliares de campo, dois preparadores físicos, um analista de desempenho e um inédito preparador de goleiros estrangeiro. A metodologia de trabalho prevê programação semanal com treinos prioritariamente pela manhã, com almoço no Centro de Treinamento, e horários rígidos. Até aqui, os dois técnicos seguem à risca o objetivo para o qual foram contratados. E causam boa impressão em ambas as diretorias e nos jogadores. No clube mineiro, o rigor já era a regra da diretoria.
Os passados dos dois técnicos em campo também contribuíram para suas escolhas. Ex-jogador, Paulo Sousa foi um meia de destaque na década de 90, com passagens vitoriosas por Juventus e Borussia Dortmund. Já como treinador, acumula trabalhos na Inglaterra, França, Itália e outros centros menores, como Hungria e Israel. O último foi na seleção da Polônia, de onde saiu para assummir o Flamengo.
Ídolo no Huracán, da Argentina, Mohamed tem passagem de maior destaque no Monterrey, onde conquistou diversos troféus e cumpriu a promessa realizada ao filho, falecido em 2006. Além da equipe argentina e mexicana, ‘El Turco’ também passou por Colón, Independiente, Tijuana, América-MEX e Celta de Vigo.
Os dois treinadores chegaram prometendo uma equipe com muitas variações táticas, para tirar o máximo dos elencos que possuem. E iniciaram a temporada com experimentos nos estaduais. Após as primeiras partidas com desempenho semelhante, levarão a campo desta vez mais do que se viu dos dois times em 2021.
– Para mim, esses sistemas não são dinâmicos, são estáticos. Quem define os jogos são os protagonistas. Para mim, o esquema não é o mais importante. Temos jogadores muito inteligentes para compreenderem o jogo e a ocupação de espaço, vamos jogar com isso – afirmou Paulo Sousa em sua chegada.
O técnico confirmou na prática a predileção pelo esquema 343, com três zagueiros, e a expectativa é se vai mantê-lo na final com Filipe Luís como defensor ou ala.
– O importante é na primeira fase de construção sairmos da pressão de algumas equipes, que será minoria. Temos que ter alternativas com mais gente também em determinadas zonas do campo. Jogadores capazes de fazer a diferença no corredor central, pelos lados… – explicou.
Em campo, Antonio Mohamed também gosta de propor o jogo e ter uma equipe igualmente dominante. Com a bola, prefere sair construindo desde a zaga. Sem ela, pressionar o adversário no campo de ataque para recuperá-la.
No material de 27 páginas enviado ao clube mineiro antes da contratação, reforçou que ‘o jogador está acima do sistema’. Ou seja, o atleta deve ser adaptável ao estilo de jogo proposto. Para o argentino, ‘um time pode ser campeão com diferentes táticas’.
– Não tenho um esquema tático preferido. Com a variedade de jogadores que temos no nosso plantel, posso jogar de muitas formas. Podemos usar 4-2-3-1, 4-4-2, 5-3-2, isso pode variar. O que não vai variar, é o estilo de jogo – analisou Mohamed quando foi apresentado.
Na prática, a ideia inicial é manter Hulk como principal atacante, mas manter uma chegada forte com nomes como Vargas, Fábio Gomes e Sasha. Além dos velocistas pelo lado, Keno e Ademir. E meias de criação como Nacho e Zaracho.
Na chegada, o argentino deixou claro que manteria o bom trabalho do técnico Cuca e da comissão permanente do Atlético-MG. Tanto que chegou apenas com três assistentes.
– Nós vamos tomar como base, respeitar muito, o que deixou Cuca. A equipe tem muita coisa boa. Tem uma transição da defesa para o ataque, que me parece estar entre as melhores do mundo. Todas essas virtudes nós vamos seguir utilizando. E vamos agregar situações que nós vamos trabalhar, para melhorar outros aspectos.