“Estamos muitos felizes de ver Thiago se juntar ao Lille, um jogador que nós acompanhávamos há muito e que foi cortejado por muitos grandes clubes”, disse Marc Ingla, diretor geral do Lille, quando o volante santista chegou ao clube. Escolhido aos 20 anos por Marcelo Bielsa e com o ouro olímpico no Rio no currículo, Thiago Maia chegou com status de maior contratação da história do LOSC, como o Lille é chamado na França. Foram desembolsados 14 milhões de euros em julho de 2017. A concorrência pelo jogador, segundo a imprensa francesa, envolvia PSG, Internazionale, Milan, Chelsea e Manchester United. Mas o LOSC precisava reagir depois de um ano em que terminou em 11º na Ligue 1, sua pior colocação em 14 anos.

Marcelo Bielsa era o timoneiro dessa transformação, liderando o clube no mercado com 11 contratações. Treze jogadores haviam deixado o clube. Esperava-se muito desse time, já que Bielsa voltava depois de longa inatividade como técnico. A trajetória do mestre argentino, porém, foi curta: em 15 de dezembro daquele ano, o Lille demitiu Bielsa, depois de uma suspensão de um mês, por suposta indisciplina. Ao todo, foram 19 partidas.

No meio do caminho, houve atritos entre Bielsa e Thiago Maia. A equipe estava na 18ª posição da liga francesa, e Bielsa, na tentativa de recuperar o terreno, improvisava Thiago Maia repetidamente na lateral esquerda. A situação causou protestos até do discretíssimo Giuliano Bertolucci, empresário do jogador. “Ele nunca jogou nessa posição, está fazendo para ajudar, mas espero que isso não dure muito. É bom que ele jogue, mas espero que ele se reencontre na posição de meia defensivo”, disse Bertolucci e publicou o diário “L’Equipe”.

Bielsa não deixou barato e respondeu a Bertolucci.

– Jamais escalo um jogador numa posição antes de entrar em acordo com o jogador, e só o faço se há as aptidões exigida para aquela posição. Quando contratamos Thiago Maia, levamos em consideração o seu custo. Sabíamos que ele poderia jogar na lateral esquerda. Nenhum jogador hoje atua em apenas uma posição. Thiago Maia é um jogador muito rápido com um senso defensivo muito afiado. Ele tem as condições necessárias para responder bem aos embates físicos.

Quando Bielsa se foi, Thiago deu declarações políticas. “Estou feliz por ter aprendido com ele, e todo mundo que ele é um dos melhores técnicos do mundo, até o Guardiola acha. É triste, mas, se Deus quiser, desejo que ele possa continuar seu caminho.”

Zero expulsões na carreira

No íntimo, o garoto roraimense sentia que tinha sido queimado pelo técnico, ao ser desviado da rota que o transformou em titular do Santos ao longo de 2015 e convocado para a disputa do ouro olímpico no Rio, pélo técnico Rogério Micale. Desesperada, a diretoria do LOSC entregou o time a Christophe Galtier, um técnico que conhecia profundamente a Ligue 1 – havia treinado o Saint-Etienne por oito anos. A operação de resgate deu certo: o LOSC terminou um ponto acima do primeiro rebaixado, e Galtier continua no comando da equipe.

Tão logo chegou, Galtier devolveu Thiago ao meio campo, e o LOSC venceu na estreia, contra o Caen. Como já tinha um cartão amarelo, deixou o campo aos 14 minutos do segundo tempo. Com o técnico atual, Thiago jogou o equivalente a duas temporadas, sempre no meio-campo: atuou por 49 jogos, marcou apenas um gol, deu apenas um assistência e tomou apenas cinco cartões amarelos. Mas nada disso foi fácil. Em agosto de 2018, perdeu espaço no elenco porque havia excesso de jogadores extracomunitários. Como não tem passaporte europeu, teve de esperar a saída de Junior Alonso para voltar a ser relacionado, mas aí já era tarde. Galtierjá tinha entre suas preferências Thiago Mendes, ex-São Paulo, e o português Xeka.

Na atual temporada: fez apenas três partidas pela liga, e em 12 partidas nem foi relacionado, depois de passar pelo departamento médico.

“Não posso fazer qualquer reparo sobre seu compromisso e seu profissionalismo”, disse Galtier, ao anunciar a saída do volante, na semana passada. “Ele entrou numa espiral que não foi feliz nem para ele, nem para mim. É um rapaz profissional, que precisa recuperar a confiança e a alegria de jogar. É um jogador que ainda pertence a nós, e que vamos acompanhar com cuidado.”

Nessa mesma entrevista, Galtier chamou a atenção para o peso de ter sido a mais cara contratação da história do clube. Thiago Maia demorou muito a se adaptar ao norte da França, numa língua que não dominava.

“Se não falo francês com vocês, é por timidez”, disse certa vez aos repórteres.

Agora, no Rio, ele espera voltar a ser o meia que, aos 20 anos, atuava como veterano num Santos que, aos 18 anos, conquistou a vaga de titular no comando de Marcelo Fernandes. Pelo clube da Vila Belmiro, ele atuou em 72 partidas, tendo marcado três gols e dado duas assistências. Thiago Maia nunca foi expulso como jogador profissional.