Thigu Soares: “Não nos tirem o que nos resta”

Quando a tristeza toma conta de nós, apenas a vergonha pode ser pior.

Desde o fatídico dia da tragédia, entre ponderações, lágrimas e ranger de dentes, venho tentando entender o que se passou e rogar para que, de alguma forma, o Flamengo consiga se portar como uma instituição humana e gigantesca.

Não quero e nem pretendo trazer uma tintura de especialista a um assunto tão trágico de nossa história. Cabe a mim, ao menos em minhas linhas, expressar minha opinião como torcedor, cidadão e humano. Não será através dessas minhas palavras que vocês verão uma análise baseada na técnica jurídica, na perícia arquitetônica ou nos preceitos da engenharia. De antemão adianto que eu não vim aqui, deixar que minha paixão por nossas cores fale mais alto que minha sensibilidade e minha prévia avaliação daqueles que, no momento, representam institucionalmente o Flamengo.

Parecia que nossos representantes, no olho do furacão, compreendiam a gravidade da tragédia e a obrigação moral de dar suporte aos familiares dos #nossos10 e aos três bravos sobreviventes. Parecia adequado evitar qualquer tipo de pronunciamento inicial quando era a hora de cuidar de quem mais sofreu com a perda dos nossos meninos.

Parecia que sabíamos que o momento de conforto e luto não bastaria, precedendo uma série de providências reparatórias que são obrigações de qualquer grande instituição que, culpada ou não, era responsável por zelar pelas vidas que foram ameaçadas e se perderam.

Só parecia…

Notas oficiais se multiplicam. Nossa diretoria alterna um silêncio pouco inocente e danoso com momentos patéticos protagonizados por aparições do VP Jurídico e dos memes enigmáticos do homem forte do nosso futebol.

Está sobrando gelo no sangue? Não, está falando sangue nas veias. Está faltando respeito. Falta respeito à memória dos #nossos10, falta respeito no amparo e na reparação justa às famílias, falta respeito à Nação, que quer e deseja que a diretoria represente o Flamengo da forma gigantesca que ele é também como entidade humana e cidadã.

Nossa tragédia não deixará de existir, nossa pior derrota já aconteceu e a diretoria está tornando isso mais indigno que um rebaixamento.

O Flamengo não é a boate Kiss ou Vale. Nada se compara. Não nos entristeçam mais, não nos envergonhem dessa maneira.

Não tornem a página mais triste de nossa história também a parte mais infeliz e indigna. Reparem – ainda que isso seja impossível – a perda das famílias desses jovens que sonhavam com nossas cores, reparem parte da alegria que foi levada e hajam com a dignidade e a correção de nossa história.

Nossa obrigação moral seria oferecer mais do que a justiça. Isso sim, nos representa e fica pra história.

Não nos tirem o brilho que nos resta, não nos tirem o orgulho do gigantismo dentro e fora das quatro linhas.

Thigu Soares
Twitter: @thigusoares

Fonte: https://colunadoflamengo.com/2019/02/thigu-soares-nao-nos-tirem-o-que-nos-resta/

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