Último técnico do Flamengo nas quartas da Libertadores lamenta: "Era para ter chegado mais longe"

Os torcedores rubro-negros voltaram a viver a empolgação das quartas de final de uma Libertadores depois de nove anos. Mas desta vez esperam por um final diferente. Nesta quarta-feira, às 21h30 (de Brasília), no Maracanã, o Flamengo recebe o Inter pelo jogo de ida tentando superar a campanha daquele time de Adriano Imperador, Vagner Love, Petkovic e Cia., que em 2010 parou na Universidad de Chile.

E assim como há nove anos, Jorge Jesus assumiu a equipe nas oitavas de final, onde deixou o Emelec, do Equador, pelo caminho. Em 2010 era Rogério Lourenço – ainda interino após a demissão de Andrade, depois da pior campanha entre os classificados na fase de grupos – que comandou o time responsável por desbancar o favorito Corinthians dentro do Pacaembu. Com a classificação, ele foi efetivado como técnico do clube pela presidente Patrícia Amorim.

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Foi o primeiro trabalho no profissional de Rogério Lourenço, ex-zagueiro e cria da Gávea. Ele comandou a equipe em 20 partidas, com sete vitórias, seis empate e sete derrotas e não resistiu aos muitos problemas enfrentados naquele ano. Depois, passou por Bahia e Tombense-MG e Mundo Árabe. Seu último clube foi o Al Nassr, da Arábia Saudita, na temporada passada. Recentemente, chegou a ser comentarista esportivo, mas diz que seu lugar é à beira do campo.

Atualmente morando no Rio de Janeiro, Rogério aguarda propostas para voltar ao mercado e enquanto isso acompanha o máximo de jogos que puder. E o Flamengo x Inter desta quarta-feira está no "menu obrigatório" do treinador. Em entrevista ao GloboEsporte.com, ele diz que o time que comandou em 2010 era mais forte que o atual, tanto que lamenta até hoje aquela dolorida eliminação, mas vê a equipe de Jorge Jesus em evolução e preparada para chegar mais longe.

Al Nassr, da Arábia Saudita, foi último clube de Rogério Lourenço em 2018 — Foto: Twitter / @AlNassrFC

Confira a entrevista completa:

GloboEsporte.com: o Flamengo de volta às quartas de final da Libertadores te traz alguma lembrança?

– Traz. A gente chegou às quartas, não conseguiu passar, mas foi por muito pouco. Eu acho que dava para passar, era um grupo forte, de excelentes jogadores: Love, Adriano, Pet… Tecnicamente estávamos muito fortes e crescendo na Libertadores. O grande problema foi o jogo no Maracanã.

Vocês eliminaram o favorito Corinthians nas quartas, mas o que aconteceu naquele jogo contra a Universidad do Chile no Maracanã?

– Nós tivemos um problema extracampo que muitos não sabem. Pegamos um engarrafamento grande e chegamos 30 minutos antes do jogo. A gente praticamente não aqueceu, colocou a roupa e foi para o jogo. E levamos dois gols no início.

– Foi por causa disso? Não, mas atrapalhou a concentração, a gente pagou caro. No jogo no Chile o time jogou muito bem, venceu por 2 a 1, criamos situações para fazer o terceiro. Eles tinham uma boa equipe, mas a nossa era para ter chegado mais longe, com certeza.

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Mas vocês souberam o que causou esse atraso? Teve algum acidente, pegou caminho errado…

– Ficávamos na Barra, mas não sei se foi questão de escolha, qual trajeto certo ou errado. Fomos pela Zona Sul e não conseguimos chegar a tempo. Normalmente se chega com uma hora e meia antes para ter tranquilidade, fazer os ajustes finais, se o adversário soltar a escalação com alguma surpresa você conversa com os jogadores…

– Nós não tivemos isso, atrapalhou muito. Dentro de uma normalidade, a gente não perderia um jogo no Maracanã tomando três gols. A equipe estava organizada, muito segura.

Qual jogo dói mais, o do Maracanã ou o de Santiago, quando a classificação escapou por pouco?

– Ah, o jogo de Santiago. Mesmo vencendo. A gente saiu na frente, eles empataram em uma jogada individual do Montillo, que fez um gol realmente espetacular, mas nós fizemos 2 a 1 e criamos duas ou três chances reais de fazer o terceiro.

– Doeu mais esse jogo pela forma como a equipe jogou. No Maracanã cometemos erros que facilitaram o trabalho deles, mas no Chile a gente fez por onde conseguir a vitória e a classificação.

E aquele lance do Vinícius Pacheco na área no último minuto, lembra?

– Esse é o lance que até hoje as pessoas comentam comigo (risos). Ele teve a oportunidade de chutar, cruzar, enfim… A gente sabe que jogador tenta a melhor situação, mas às vezes a melhor situação que ele pensa acaba não acontecendo. Mas poderia ter acontecido com qualquer um, o Adriano, o Love… Colocaram um peso muito grande nele, mas aconteceu.

— Foto: Reprodução

E esse ano, tem acompanhado o time nessa Libertadores?

– Tenho acompanhado, sim, e estou gostando. O Flamengo está crescendo jogo a jogo, fez um belíssimo jogo contra o Vasco. Tem alguns jogadores que precisam se adaptar ao futebol brasileiro, caso do Rafinha, do Filipe Luís…

– E precisa ter um equilíbrio maior no meio de campo em relação ao sistema defensivo. Está atacando muito bem, mas deixando espaços. Mas acho que a equipe chega forte para esse confronto com o Inter.

Aquele time também era recheado de estrelas: Adriano, Love, Pet, Kleberson, Léo Moura, Bruno… Dá para comparar com o atual?

– É um pouco parecido, só que eram jogadores consagrados há mais tempo, que tinham feito uma história no Flamengo. Os de agora são grandes jogadores, mas precisam ainda escrever uma dentro do clube. Aquele grupo tinha sido campeão brasileiro em 2009, praticamente o grupo todo.

– E eu considero o Brasileirão o campeonato mais difícil de vencer. Os atuais têm história fora do clube e estão tentando construir dentro. É muito importante que eles consigam chegar o mais próximo da conquista. Não é fácil, mas eles têm condições.

E qual é mais forte, o de 2010 ou o de 2019?

– Eu acho que o de 2010 era mais forte. Era um time que já estava formado, tinha jogadores com história. Esse de agora tem muitos que acabaram de chegar e estão buscando seu espaço.

– A gente já tinha uma bagagem de campeão brasileiro, e taticamente eu considerava uma equipe bem organizada. Essa de hoje ainda não encontrou o equilíbrio entre organização ofensiva e defensiva, mas está no caminho certo. É questão de tempo.

Assim como em 2010, o Flamengo também vai decidir fora. Acha que o time tem mais chances esse ano de chegar à semifinal do que vocês tiveram?

– Acho que as condições são parecidas. Tanto em 2010 como agora. Ia jogar contra uma grande equipe, a Universidad do Chile não tinha perdido ainda na Libertadores, e agora também enfrenta uma equipe que vem muito bem jogando em casa. Vai ser um confronto muito equilibrado, jogos assim são decididos no detalhe. O Flamengo tem que vencer no Maracanã, passa a ter a vantagem.

– O Flamengo tem sido muito forte no Maracanã, ficou um tempo sem ser, mas de um tempo para cá está muito forte. Tem tudo para conseguir a vitória na quarta e ter uma tranquilidade maior para jogar lá, que não é fácil. Já estive lá como jogador e treinador, é uma pressão grande. Mas o Flamengo tem uma equipe experiente, importante é conseguir a vantagem aqui.

Aquela foi sua primeira experiência como técnico no profissional. Como foi comandar aquele vestiário? Conta um pouco dos bastidores.

Rogério Lourenço deixou o Flamengo após 20 jogos no profissional — Foto: Cezar Loureiro / O Globo

– As pessoas achavam que era um grupo problemático, mas pelo contrário. Eram jogadores de personalidade forte, mas que queriam vencer. Não tive problema em relação a comando, treinamento, eles seguiam tudo que estava planejado de ordem técnica e tática. Não tive problemas de não cumprirem o que estava programado.

– Tínhamos uma relação boa. Claro que alguns jogadores fora de campo davam algumas deslizadas, mas não tenho o que falar daquele grupo em relação a trabalho. Era um grupo que a torcida podia se orgulhar, mas acabou não acontecendo.

Mas você teve que lidar com turbulências, né? Teve a saída do Adriano, a prisão do Bruno… O Extra-campo atrapalhou muito?

– Até a eliminação da Libertadores estava tudo bem. Grupo completo, forte. Após a eliminação a coisa desandou, muitos saíram como o Love, Adriano e outros. A gente teve problemas, acho que faltou um suporte maior da diretoria de futebol na ocasião, acho que fiquei desprotegido.

– A gente acabou indo para o Brasileiro com uma equipe muito fragilizada, tanto tecnicamente quanto em quantidade. Tinha poucos jogadores, um atacante que era o Diego Maurício, que eu levei para o profissional. E mesmo assim não foi tão ruim meu aproveitamento.

– Mas estava desorganizado o futebol na parte administrativa. Não pode perder metade do time em maio. O planejamento foi mal elaborado, e acabou que o Flamengo teve um ano ruim. Eu saí, vieram outros, o Zico assumiu o futebol e depois saiu também porque não teve autonomia. Se o Zico não teve, quem iria ter?

– Quando aconteceu a questão do Bruno, veio logo a Copa do Mundo e acabou tirando o foco do elenco porque não estávamos jogando. Mas não tem como não mexer com jogadores, a gente sabe que mexe, até pela amizade, uma convivência diária.

– Não sou psicólogo, não sei até que ponto influenciou o rendimento em campo, mas existiam normas para não falar no assunto. Foi criada uma situação bem desconfortável para todos nós, realmente foi muito chato.

E aí quem virou titular do gol foi o Marcelo Lomba, que vai ser adversário do Flamengo pelo Inter…

– Sim, eu que firmei ele como titular. Naquele momento ele pôde dar uma decolada na carreira. O Paulo Victor era o reserva dele.

Sua última experiência como técnico foi no Al Nassr, da Arábia Saudita, entre 2017 e 2018, né? Qual seus planos agora?

– Isso, estava lá até outubro do ano passado. Foi uma experiência boa, passei pelo país duas vezes, uma grande equipe do Mundo Árabe, e agora estou aguardando alguma oportunidade, no Brasil ou exterior. Tenho vontade de voltar a trabalhar no futebol brasileiro.

– Quando a gente sai para o Mundo Árabe acaba ficando esquecido aqui, então tenho esse desejo de retornar para esse mercado. Sempre acontecem algumas sondagens, empresários falam de possibilidades, mas ainda não surgiu uma opção concreta que me agradasse.

Você passou um tempo como comentarista esportivo. Mas prefere ser treinador mesmo?

– É porque nessa época eu queria ficar no Rio, estava resolvendo assuntos pessoais, acabei sendo convidado e aceitei. Mas realmente o campo faz falta para mim, comentarista não é minha praia. Foi uma ótima experiência, mas a minha vida profissional é na beira do campo mesmo.

Quero agradecer ao C.R. do Flamengo, ao presidente @rodolfolandimmoficial e em especial os amigos @brunoylucena @flanacao.oficial em nome do Sandro Rilho pela homenagem conferida hoje no Maracanã pelo meu aniversário. Uma vez Flamengo, sempre Flamengo!!!

E voltar um dia ao Flamengo faz parte dos seus planos?

– Tenho vontade. O Flamengo fez parte da minha vida toda, cheguei com 12 anos e cresci dentro do clube como atleta. Costumo dizer que passei todas as situações no Flamengo: joguei na base e fui treinador; joguei no profissional e fui treinador.

– Achei que poderia ter um tempo maior ou um suporte maior, coisa que na ocasião não tive. Um dia, quem sabe? Penso em retomar minha carreira no mercado, mas o Flamengo sempre será a minha segunda casa, está no coração.

Pretende ver os jogos do Flamengo contra o Inter? No Maracanã ou na TV?

– Claro. Tenho aproveitado esse momento para estar acompanhando o Brasileiro, a Copa do Brasil e a Libertadores. E um jogo como esse não tem como perder. Vou ver em casa mesmo. Sou um cara que gosto de ver sozinho, me concentro na partida não só para ver o jogo mas para analisar dentro da minha profissão, com calma.

– Acredito que o Flamengo tem todas as condições de passar, tem tudo para vencer na quarta, vem de uma vitória contra o Vasco que dá uma moral grande, acaba refletindo pelo lado positivo. O time vive um momento bom.

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Fonte: https://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/ultimo-tecnico-do-flamengo-nas-quartas-da-libertadores-lamenta-era-para-ter-chegado-mais-longe.ghtml

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