Uma forma de entender por que o Flamengo chega tão favorito nos jogos contra o Vasco ultimamente é lançar luz sobre a maneira com os clubes lidam com os trabalhos de seus treinadores. Hoje, às 17h, as equipes se enfrentam pelo Brasileiro no estádio de São Januário, repetindo uma tendência. Enquanto o Flamengo briga por títulos, o Vasco luta para deixar a parte de baixo da tabela.

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Em três anos de gestão, o presidente Alexandre Campello chegará a nove técnicos tão logo encontre o sucessor de Ramon Menezes, que chegou a liderar o campeonato e foi demitido após queda brusca de rendimento. A média de trocas no clube é de três por ano. O triplo em relação ao Flamengo de Rodolfo Landim. Que demitiu apenas Abel Braga em 2019 e perdeu Jorge Jesus para a pandemia e para o Benfica de Portugal em 2020.

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O espanhol Domènec Torrent veio sob o mesmo projeto e viverá seu primeiro Clássico dos Milhões, após ter sido bancado pelo vice de futebol do Flamengo, Marcos Braz. Não fosse um comando forte na pasta, a goleada para o Del Valle na Libertadores teria abreviado a passagem de pouco mais de dois meses. Do lado do Vasco, a demissão em semana de clássico, mas antes de a bola rolar, chamou atenção até do rival.

Alexandre Grasseli, técnico do sub-20, assume o time no sufoco, a um mês da eleição no clube, da qual Campello é candidato. O atual presidente tenta se manter no poder mesmo com uma administração do futebol notabilizada por salários atrasados e decisões unilaterais baseadas em seus efeitos políticos.

A disputa política interna também foi pano de fundo para a manutenção de Dome no Flamengo. Diferentemente do Vasco de Campello, o presidente Rodolfo Landim não ouviu as demais vozes que o rodeiam e confiou no veredicto do responsável pelo futebol. Com um elenco mais forte e questões financeiras equacionadas, o Flamengo também se vê menos vulnerável a essas turbulências políticas.

Tanto que, na década, as duas equipes figuram na ponta do ranking das que mais trocaram treinadores. De 2011 a 2020, o Vasco fez 20 trocas e teve 18 técnicos. No Flamengo, foram 19 trocas e 17 profissionais. Sem contar a dança das cadeiras em outras funções.

A figura do vice de futebol

Apenas este ano o Vasco voltou a ter um vice de futebol. José Luis Moreira, que se tornou conhecido pelo trabalho com Eurico Miranda, veio também para ajudar com as finanças. Ao novato diretor André Mazzuco cabe mais a gestão do vestiário, não a tomada de decisões estratégicas.

Desde 2018, Campello resolveu acumular a função após a saída de Fred Lopes do futebol, exonerado em maio. Em meio ao caldeirão político que já se anunciava, o técnico Zé Ricardo, primeiro da gestão atual, pediu para sair no mês seguinte. Em seguida, deixaram o clube o diretor Paulo Pelaipe e o gerente Newton Drummond. Alexandre Faria assumiu como executivo, mas não duraria um ano sequer. Entre os profissionais, o presidente sempre teve fama de inábil com o assunto.

Dos oito técnicos da era Alexandre Campello, contando os interinos, cinco foram demitidos e três pediram para sair. Além de Zé Ricardo, que chegou a 50 jogos ao ser herdado pela gestão anterior, Luxemburgo e Abel Braga interromperam os próprios trabalhos. Mesmo os nomes de peso e experientes no futebol brasileiro não resistiram às dificuldades administrativas. Luxa comandou o Vasco em 34 jogos em 2019, foi bem, mas fechou com o Palmeiras. Este ano, Abel dirigiu o time por 14 jogos em apenas três meses este ano. E decidiu sair após a pandemia.

A manutenção de Ramon como interino se deveu ao bom custo-benefício e pelo ex-jogador conhecer o clube e o elenco na função de auxiliar. A inexperiência levou o Vasco a trazer Antonio Lopes para dar respaldo ao trabalho, como coordenador de futebol. Mas na prática, também era atropelado por Campello nas decisões e acabou saindo com Ramon.

No Flamengo, o mau momento no início do trabalho de Dome fez o vice de futebol Marcos Braz deixar claro internamente que sairia caso houvesse troca de comando. Com o vestiário sob seu controle, o dirigente acumula as funções política e de gestão do grupo, enquanto deixa para o diretor Bruno Spindel a parte de negociação dos contratos.

Landim, por sua vez, participa muito pouco das decisões do dia a dia. E quando ouvido sobre os rumos do futebol em situações mais críticas, até aqui concordou na maioria das vezes com o que Braz determinava. Com os resultados à favor tendo peso, claro não há força política que redirecione hoje os rumos do futebol rubro-negro. Enquanto os do Vasco parecem estar à deriva.